O mês dos regressos
Setembro é o mês dos regressos . Regressam os políticos às arenas onde pugnam pelas suas ideias; regressam os estudantes às aulas, com a crónica falta de professores em várias disciplinas da escola publica; regressa-se de férias para mais um ano de trabalho e de incertezas. E neste site do Clube Português de Imprensa regressa-se, também, à actualização regular de conteúdos, esgotada a pausa que propomos aos nossos associados e demais visitantes durante este período do ano.
Convirá que não se abuse do optimismo nem se meta o realismo no baú do sótão. O jornalismo não respira saúde, e em não poucos casos, persistem as dúvidas sobre o futuro próximo.
No sector, há empresas insolventes e outras que acumulam prejuízos de exploração, cobertos por mecenas que gerem os seus interesses próprios, em nada coincidentes com a imagem de independência de que os media carecem para garantir a sua credibilidade.
Ignorar este quadro é o mesmo que “meter a cabeça na areia” para não perceber o que se passa. E o que se passa traduz-se em queda de tiragens nos jornais e de audiências nos media generalistas, vitimas da concorrência das plataformas digitais e das chamadas redes sociais e, por fim, do advento da Inteligência Artificial, que já chegou às redacções portuguesas.
Há dias, o jornal económico online “Eco” publicava um trabalho que designou, decerto não por acaso, “A IA vai substituir os jornalistas? Saiba como os media portugueses estão a adotar IA nas redações”. A peça em causa procedia à recolha informativa dos passos que estão a ser dados nos principais grupos editoriais portugueses para introduzir a IA na redacções.
Logo no “lead”, escreve sem rebuço, que “Cada vez mais empresas de media recorrem à IA, com esta tecnologia a ganhar um papel estruturante nas redacções nacionais, garantindo oportunidades mas também levantando desafios”.
Ou seja, se por enquanto a IA está a ser aplicada “em tarefas repetitivas e de baixo valor acrescentado“, o certo é que já foi feita, há poucos meses, “ uma edição do jornal I, desenvolvida na íntegra através do ChatGPT”, titulo que, entretanto, foi descontinuado, no âmbito da reestruturação em curso na empresa proprietária.
Portanto, o jornalismo já não se confronta apenas com a precariedade no emprego por causa da debilidade de várias empresas. Tem a bater-lhe à porta a IA para o substituir, a princípio, em tarefas de rotina, mais tarde noutras bem mais ambiciosas ao nível da produção de conteúdos.
Para o empresário, a IA é uma tentação irresistível, com influência marcante na coluna dos custos; para o jornalista, se não souber lidar com a situação e superar o algoritmo, será um dilema no curto prazo.
Ao retomar o site (sem recurso à IA…), o CPI não subestima as mudanças tecnológicas nem a crise do associativismo no sector. Enquanto pudermos, queremos ser uma voz em defesa do jornalismo, dos jornalistas e dos media. Contudo, sem ilusões e sem artificialismos.
A Direcção
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