“A sobrevivência do jornalismo está directamente relacionada com a forma como as pessoas valorizam a notícia”, começa por escrever Carlos Castilho, no seu mais recente texto para o Observatório da Imprensa do Brasil, com o qual o CPI tem uma parceria. Segundo o artigo, investigações nos Estados Unidos da América (EUA) e na Europa revelam uma “crescente perda de importância do noticiário da imprensa na agenda diária da população”, colocando em risco a própria função do jornalismo. 

Para o autor, o maior desafio do jornalismo contemporâneo não está na inteligência artificial, nos desertos de notícias ou na regulamentação das redes sociais, mas sim na “valorização da notícia”. Quando as pessoas deixam de ver as notícias como algo relevante, o jornalismo transforma-se num “mero empacotador de dados, factos e eventos para consumo massivo e rápido”. 

Revalorizar a notícia não se trata apenas de dar “uma nova cara a um produto que perdeu atractividade e importância comercial”. Os indicadores deste processo de perda de relevância da notícia jornalística estão na queda de credibilidade da imprensa, no encerramento de jornais, na migração do público para plataformas digitais e no chamado ‘negacionismo informativo’, isto é, pessoas que deixaram de ler jornais, ouvir programas radiofónicos noticiosos, telejornais e aceder sites jornalísticos na internet. 

Este “divórcio” entre o jornalismo e a vida real das pessoas deve-se, em parte, ao facto de os meios se apoiarem em métricas quantitativas, incapazes de captar as necessidades informativas a nível local e hiperlocal, onde o chamado “negacionismo informativo” mais cresce. Os cidadãos querem respostas práticas para o quotidiano: “onde comprar carne mais barata, os horários de transportes, onde se vacinar ou como reclamar da recolha de lixo” — temas que, muitas vezes, não encontram espaço na imprensa tradicional. 

A imprensa, refere o texto, continua a privilegiar os interesses das elites políticas, empresariais, culturais e militares, o que afasta os leitores e acentua o desinteresse, com excepção da cobertura de catástrofes, tragédias e desporto. 

No entanto, algumas soluções estão a emergir. O “Método Público”, desenvolvido por investigadores holandeses, procura avaliar o valor não monetário da notícia através de parâmetros como percepção, compreensão, envolvimento e responsabilização. Já está a ser testado com sucesso na rede de televisão pública holandesa NPO para uniformizar os procedimentos dos jornalistas na hora de determinar o que deve ou não ser noticiado. Ainda assim, persiste uma dúvida relativa à efectividade do método na identificação das “micro-preocupações” nos bairros e pequenas cidades. 

Outro caminho destacado por investigadores como Andrea Wenzel e Jacob Nelson é o envolvimento directo dos jornalistas com as comunidades, considerado o método mais eficaz para identificar as reais necessidades informativas das pessoas. Este modelo tem sido especialmente eficaz entre os públicos mais jovens, como demonstram os estudos do professor Damian Radcliffe, da Universidade de Oregon. 

Carlos Castilho conclui que, embora a IA possa tornar o jornalismo mais rentável, “a revalorização da notícia é muito mais importante e urgente para o futuro do jornalismo”. 

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