Para Carlos Castilho, “o jornalismo já não decide o que é ou não notícia”

Num novo texto para o Observatório da Imprensa do Brasil, parceiro do CPI, o jornalista Carlos Castilho faz referência a uma investigação do Pew Research Center, que apresenta a ideia de que “o jornalismo já não decide o que é ou não notícia”. Hoje, são as próprias pessoas que, com base no seu contexto social, económico, político e cultural, determinam o que consideram relevante, dando origem a uma personalização do conceito de notícia.
A digitalização e a internet vieram alterar de forma profunda o consumo e produção de informação. Antes, “as pessoas não tinham muitas alternativas a não ser confiar na imprensa e no jornalismo para saber o que era importante, confiável, pertinente, actual e exacto em matéria de estatísticas, factos, eventos e ideias”. Agora, com acesso a diversas fontes e a capacidade de publicar, os cidadãos passaram a “seleccionar o que vão ler, ouvir ou assistir”, retirando ao jornalista o monopólio da definição da verdade noticiosa.
“Na era digital, a notícia já não é uma commodity, ela perdeu valor comercial porque se tornou superabundante em função da avalanche informativa”, refere Castilho. Esta mudança altera o papel do jornalista, que deixa de ser o “guardião da verdade” para ser avaliado pela “utilidade, oportunidade e afinidade” do que produz.
Aos elementos tradicionais, como a confiabilidade, a relevância, a pertinência, a actualidade ou a exactidão, juntam-se agora factores conjunturais e contextuais “que influenciam a noticiabilidade de dados, factos e eventos”. De acordo com o Pew Research Center, 55% dos inquiridos preferem notícias com as quais têm alguma simpatia política ou ideológica.
Por último, Carlos Castilho afirma que a personalização da informação obriga o jornalismo a investir na “segmentação do noticiário”, dando nova centralidade ao jornalismo “local e comunitário”. Além disso, a notícia passa a ser avaliada pelo seu contributo para a “busca por melhores condições de vida”, colocando a produção de conhecimento no centro da relação entre o público e os media.
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