Um artigo do Reuters Institute explora como as novas plataformas de comunicação social estão a conseguir atrair o público jovem, algo que os meios tradicionais têm tentado fazer há vários anos. Apesar do aparente desinteresse da Geração Z pelos formatos noticiosos convencionais, os jovens “continuam a interessar-se pelas notícias” e procuram “compreender o mundo que os rodeia”, muitas vezes através de criadores de conteúdos e plataformas digitais. 

Segundo o mais recente relatório de tendências dos media do Reuters Institute, 42% dos editores planeiam lançar ou testar produtos orientados para os jovens este ano. A aposta passa por adaptar os formatos às rotinas e preferências desta geração, marcada pelo uso intensivo de smartphones e redes sociais como TikTok, YouTube e Instagram – plataformas que hoje fazem parte essencial da “dieta online dos jovens”. 

Um dos casos destacados é o RocaNews, fundado por Billy Carney e dois colegas durante a pandemia. A startup americana de notícias produz conteúdo em vários formatos digitais, incluindo notícias diárias curtas, imagens gráficas e humorísticas. A empresa tem como público-alvo os jovens dos 18 aos 35 anos e utiliza canais como o Instagram, newsletters, uma app de notícias e o YouTube

Este movimento mostra que, para conquistar os jovens, “é preciso ir onde eles estão”, utilizando linguagem acessível, formatos visuais e plataformas que se alinhem com os seus hábitos digitais. A chave está em combinar credibilidade informativa com formatos nativos das redes sociais. 

Hoje, a conta do RocaNews tem mais de 1,6 milhões de seguidores, duas newsletters com mais de 200 mil subscritores, e uma aplicação com dezenas de milhares de utilizadores activos. A empresa é rentável e funciona com uma pequena equipa — seis colaboradores a tempo inteiro e onze a tempo parcial. 

Na Europa, o jornalista romeno Teodor Tita criou o Gen, știri no Instagram, com um objectivo semelhante: responder à falta de notícias feitas para os jovens. Tita, com mais de 20 anos de experiência, notou que os meios romenos não levavam a sério o público jovem. Ele acredita que a fraca ligação das novas gerações aos meios tradicionais não é por desinteresse, mas por falta de confiança. 

Segundo o jornalista, os jovens “não confiam nos media tradicionais, mas vão ao Reddit, vão ao Instagram, vão aos influenciadores [que] não têm um código de ética”. A adesão ao Gen, știri foi imediata: “Eles querem as notícias. Por isso, quando apresentámos uma oferta estruturada no TikTok e no Instagram, funcionou.” 

Actualmente, o Gen, știri conta com mais de 172 mil seguidores no Instagram e 93 mil no TikTok, com 90% da audiência abaixo dos 35 anos. Com uma equipa de 12 pessoas, o projecto sustenta-se através de publicidade, mas ambiciona criar uma plataforma própria, menos dependente das grandes tecnológicas. 

Na Alemanha, Rieke Smit, da iniciativa #UseTheNews, coordena projectos de literacia mediática que tentam combater o afastamento dos jovens em relação às notícias. Em 2024, liderou o Social News Daily, um projecto que apostou em plataformas como o TikTok, Instagram e Twitch para chegar a este público. 

Apesar de muitos jovens consumirem notícias através de vídeos curtos, Smit lembra que plataformas como o YouTube e a Twitch permitem conteúdos mais longos, contrariando a ideia de que os jovens têm pouca capacidade de atenção. “Este é o vosso futuro público”, alerta. “Talvez neste momento não pareça um bom investimento porque não se está a ganhar dinheiro por estar no TikTok, mas é preciso pensar a longo prazo. Em algum momento, estas pessoas do TikTok podem sair dessas plataformas e comprar uma assinatura.” 

Nem todas as iniciativas para captar o público jovem dependem exclusivamente de redes sociais baseadas em vídeo. A agência noticiosa moldava #diez, fundada em 2013, aposta num modelo mais tradicional de site informativo, promovendo os seus artigos através de diferentes plataformas. O seu público é maioritariamente jovem e a sustentabilidade financeira é assegurada por uma combinação de publicidade, subvenções internacionais e donativos via Patreon

Segundo a editora-chefe, Valeria Batereanu, a relevância e originalidade do conteúdo são o segredo: “Somos o único portal de nicho na Moldávia que centra o seu conteúdo na educação, nas empresas em fase de arranque e nas oportunidades de emprego”, afirmou. Além disso, o #diez procura abordar temas sociopolíticos com uma linguagem acessível e inovadora. 

Com o crescimento de plataformas como TikTok, Instagram Reels e YouTube, a fronteira entre jornalismo e entretenimento torna-se cada vez mais difusa, impulsionada também pela popularidade de influenciadores e vozes alternativas no espaço noticioso. 

Rieke Smit, da iniciativa alemã #UseTheNews, sublinha que, para além de procurarem informação, os jovens querem interação e ligação emocional com as notícias e que o conteúdo não seja demasiado parecido com o jornalismo convencional: “As pessoas que não se interessam por notícias vão directamente passar ao lado [de qualquer coisa que se pareça com notícias], por isso não tem hipótese de chegar até elas e mostrar-lhes que é de confiança.” 

No seu entender, a solução está em encontrar um equilíbrio: “Ser transparente e dizer que se é uma agência de notícias, mas parecer-se um pouco mais com os hábitos de visualização que os jovens têm nas redes sociais.” 

Este foco na confiança e autenticidade é reforçado por dados que mostram que muitos jovens consideram os conteúdos “não filtrados” das redes sociais mais fiáveis do que os meios tradicionais. 

Teodor Tita, fundador do Gen, știri, afirma que o sucesso do projecto se deve ao compromisso com um forte código de ética aliado a uma linguagem próxima: 
“Estamos a produzir jornalismo para o público. Muitos jornalistas em muitos mercados estão a produzir jornalismo para outros jornalistas. Nós não fazemos isso.” 

Para garantir autenticidade, o Gen, știri emprega quase exclusivamente jovens da Geração Z — 11 dos 12 membros da equipa pertencem a esse grupo etário, com Tita a servir agora de mentor. 

O mesmo se verifica no meio moldavo #diez, onde a maioria dos doze membros da equipa editorial está ainda nos primeiros anos da universidade. A editora-chefe Valeria Batereanu, também da Geração Z, afirma que esta proximidade etária é uma vantagem, uma vez que permite ouvir as necessidades dos jovens. 

Ainda assim, nem todos os projectos têm sucesso imediato em todas as plataformas. O RocaNews tentou apostar no X (antigo Twitter), mas sem grandes resultados. Já o Gen, știri está a lutar para crescer no YouTube

Uma abordagem eficaz para atrair e envolver o público jovem passa por oferecer conteúdos úteis e criar espaços de participação activa. A editora-chefe da plataforma moldava #diez, Valeria Batereanu, explica que o seu conteúdo é pensado para acompanhar os momentos-chave da juventude: 
“Concentramo-nos em fornecer conteúdos úteis que guiem os jovens através dos acontecimentos mais significativos das suas vidas, como exames, processos educativos, primeiras eleições, primeiros empregos, experiências de estudo e de estágio no estrangeiro.” 

Além disso, o #diez promove uma plataforma aberta para os jovens expressarem as suas histórias e preocupações. Um exemplo é o programa para futuros correspondentes, que funciona como um bootcamp jornalístico para estudantes do ensino secundário. Após formação presencial na redacção, os participantes produzem reportagens sobre as suas comunidades. O projecto cobre todas as despesas logísticas, e alguns alunos tornam-se correspondentes pagos. 

Segundo Rieke Smit, da iniciativa #UseTheNews, é essencial incluir os jovens nos próprios processos de criação dos conteúdos: “Tentar que os jovens participem na sua empresa ou no exterior para desenvolverem novos meios e formatos. É assim que se pode ter a certeza de que se está realmente a chegar às pessoas que se quer atingir.”

(Créditos da imagem: Unsplash)