Índice mundial de liberdade de imprensa em queda livre

O relatório de 2025 da organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) classifica pela primeira vez a situação global da liberdade de imprensa como "difícil", um nível abaixo do anterior "problemática" e a segunda classificação mais baixa possível. Segundo a Press Gazette, trata-se de "um mínimo histórico", com destaque para a "crítica e sem precedentes" deterioração da saúde financeira dos meios de comunicação independentes.
A organização cria as suas classificações nacionais de liberdade de imprensa através da avaliação de cinco indicadores: os contextos económico, político, jurídico e sociocultural de cada país, bem como a sua situação em termos de segurança.
Em 2025, estas pontuações (num total de 100) foram, em média, de 54,7 em todos os 180 territórios avaliados, uma descida em relação aos 55,9 do ano passado e suficientemente baixa para passar para a categoria “difícil” da RSF. A pontuação mais baixa entre os cinco indicadores avaliados foi, de longe, a económica, com apenas 44,1 pontos.
Portugal perdeu o estatuto de país com "boa" liberdade de imprensa, descendo um lugar para a oitava posição e passando a ser classificado como "satisfatório".
Entre os avanços, destaca-se a América Latina: Paraguai e Bolívia subiram 31 posições cada, e o Panamá subiu 30 lugares. A Polónia e o Gabão também melhoraram significativamente, com a RSF a reconhecer um novo estatuto "satisfatório" em ambos.
Na outra ponta, a Guiné teve a maior queda, descendo 25 lugares, seguida do Kosovo e do Quirguizistão, com este último a ser reclassificado com um ambiente "muito grave". Entre os países agora considerados de "risco extremo" destacam-se também Hong Kong, Ruanda, Etiópia, Jordânia e Uganda.
Os Estados Unidos continuam em queda, agora em 57º lugar, atrás da Roménia e da Serra Leoa. A RSF atribui esta descida à deterioração durante o segundo mandato de Trump, que levou a uma "mudança autoritária no governo", causando uma perda de 28 pontos no indicador sociocultural. A instabilidade económica dos meios nos EUA também é evidente: 60% dos jornalistas inquiridos afirmaram ser difícil ganhar um salário digno, e 75% disseram que os seus meios de comunicação lutam pela viabilidade económica.
O panorama na Europa é igualmente preocupante, com uma crescente divisão entre regiões: enquanto os países da UE e dos Balcãs ainda lideram em termos de liberdade, 28 dos 40 países viram piorar a sua situação económica, afetados pelo fim abrupto do apoio americano e pelo peso crescente da propaganda russa.
Fiona O'Brien, da RSF no Reino Unido, reconheceu melhorias pontuais, como "o crescente consenso político sobre legislação anti-SLAPP" e a libertação de Julian Assange, mas alertou para os ataques transnacionais a jornalistas e vigilância policial, concluindo: “precisamos de ver um verdadeiro compromisso do Reino Unido com a liberdade de imprensa, tanto em acções como em palavras”.
No Médio Oriente e Norte de África, nenhum país foi classificado com liberdade “satisfatória”, e a Palestina é considerada uma das zonas mais perigosas do mundo para jornalistas, com “redacções destruídas e jornalistas mortos pelo exército israelita”.
A RSF conclui com um alerta devastador: os 42 países com liberdade de imprensa “muito grave” representam 57% da população mundial.
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