Vassilis veio para França em 1961, para estudar jornalismo na Universidade de Lille. Em 1969 falou com Claude Julien, que chefiava na redacção o serviço de Estrangeiro, para fazer trabalhos como freelance, e foi encaminhado para Jacqueline Piatier, que dirigia a secção Le Monde des livres

“Era uma senhora que parecia um pouco severa, ao jovem que eu era. Perguntou-me se eu tinha lido o Don Quixote...  ‘É daí que vem toda a literatura moderna’  - explicou-me ela. Eu acho que disse aí a maior mentira da minha vida, porque não tive coragem de confessar a minha incultura. Só o li trinta anos mais tarde, e percebi que ela tinha razão: toda a literatura moderna vem do livro de Cervantes.” 

Como conta o autor, ficou surpreendido pela facilidade com que foi acolhido, sendo um grego chegado a Paris: 

“Eu tinha o diploma da escola de jornalismo de Lille, mas receava que não acreditassem no meu conhecimento do francês. Pensei durante muito tempo que era porque tinham pena de um opositor ao regime dos coronéis [a Grécia foi governada, de 1967 a 1974, por uma junta militar].” 

“Na verdade, é porque tínhamos praticamente a mesma idade, o jornal e eu [Vassilis Alexakis nasceu a 25 de Dezembro de 1942, é poucos meses mais velho que o Le Monde].  Nunca me senti tão feliz como quando saí nesse dia do Monde. Estava como um seminarista que vê finalmente [a Basílica de] S. Pedro, em Roma!” 

Le Monde já tinha muito prestígio na Grécia. Líamos quando o encontrávamos, durante a ditadura dos coronéis. Traduzíamos para os amigos que não falavam francês. Era uma abertura para saber o que se passava na casa ao lado. Era o nosso jornal.”  (...) 

Depois dos seus 40 anos, Vassilis deixou o jornalismo para se consagrar a tempo inteiro à literatura. 

“São actividades exigentes, que tomam tempo”  - explica. “É difícil praticá-las bem ao mesmo tempo. E, depois, os 40 anos são a idade da separação.”  (...) 

Vassilis escreveu os seus primeiros romances em francês. A sua primeira obra em grego foi Talgo, em 1981, que ele próprio traduziu depois para francês. Passou a fazer isso com outros livros.

 

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