O Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford, publicou recentemente um estudo sobre o “papel das plataformas digitais nos ambientes mediáticos contemporâneos”, bem como a percepção pública sobre estas plataformas, anuncia o próprio instituto.

Um dos objectivos do relatório é analisar os benefícios e problemas que as plataformas trazem, “especialmente quando se trata de notícias e informação sobre política”, lê-se na introdução.

No estudo, são considerados cinco tipos de plataforma digital: 1) redes sociais (como o Facebook, X, Instagram e TikTok); 2) motores de pesquisa (por exemplo: Google, Bing, Yahoo!); 3) plataformas de vídeo (tais como YouTube, Vimeo e Dailymotion); 4) aplicações de mensagens (WhatsApp, WeChat, Facebook Messenger, etc.); e 5) chatbots de inteligência artificial (IA) generativa (como o ChatGPT, Google Gemini e Perplexity).

Os dados foram recolhidos em Outubro deste ano e são relativos a amostras populacionais de oito países — Argentina, Brasil, Alemanha, Japão, Coreia do Sul, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos.

De forma geral, os resultados apontam no sentido de alguma ambivalência no uso das plataformas, no sentido em que as pessoas recorrem a estas, valorizando os benefícios que delas retiram, ao mesmo tempo que se mostram cépticas acerca do rigor da informação e do poder que reside cada vez mais nas tecnologias.

Os principais resultados podem ser organizados em quatro grandes grupos temáticos:

Uso das plataformas para aceder a notícias e informação política

  • Em todos os países, entre as plataformas digitais, os motores de pesquisa são os mais usados para a procura de notícias (45%), seguidos das redes sociais (41%) e plataformas de vídeo (30%).
  • Ainda assim, os sites e as aplicações de notícias (59%), bem como a televisão (57%), continuam a ser as fontes mais usadas para este fim (59%).
  • A maioria das pessoas continua a recorrer a uma combinação de formatos para aceder às notícias. Apenas 10% usa apenas as plataformas digitais ou apenas as publicações noticiosas.
  • É mais comum que aqueles que usam as plataformas digitais para aceder a notícias e informação política façam parte de faixas etárias mais jovens, sejam homens e estejam mais confortáveis com as novas tecnologias.

Relação entre as plataformas, política e democracia

  • “A maioria das pessoas mostra-se céptica em relação às plataformas digitais como fonte de informação noticiosa”, resume o sumário executivo do estudo.
  • Pouco mais de um terço (37%) das pessoas confia nas plataformas de vídeo, e menos pessoas ainda (31%) confiam nas aplicações de mensagens para aquele fim. Com valores mais baixos, encontram-se as redes sociais (30%) e a IA generativa (27%). Os motores de busca são aqueles em que as pessoas confiam mais (55%).
  • Os mais novos tendem a confiar mais nas plataformas digitais como fonte de conteúdos noticiosos.
  • Num balanço entre vantagens e riscos das plataformas, a maioria considera que estas tecnologias permitem uma ligação mais fácil à família e amigos (66%), um acesso mais rápido à informação (63%) e uma conexão com pessoas com os mesmos interesses (59%). No entanto, 69% dos utilizadores acreditam que as plataformas são contextos onde as pessoas dizem coisas que não diriam pessoalmente, além de serem espaços de divulgação de informações falsas (69%) e de partilha de opiniões radicais (64%).
  • Quando questionados acerca do papel das plataformas na aproximação ou afastamento das pessoas na sociedade, os participantes responderam que as aplicações de mensagens e os motores de busca tendem a aproximar mais as pessoas, e as redes sociais a afastar os cidadãos uns dos outros. Fora das plataformas, os jornalistas, os meios de comunicação social e, acima de tudo, os políticos são vistos como actores que contribuem para as divisões sociais.

Políticas de uso e gestão das plataformas

  • Em todos os países, mais de um terço dos inquiridos considera que a desinformação, o uso indevido da IA generativa e a gestão de dados pessoais pelas empresas tecnológicas são temas a que os decisores políticos estão a dar pouca atenção.
  • A maioria das pessoas acredita que as plataformas devem ser responsabilizadas pela informação falsa que lá é publicada.
  • Tendencialmente, as pessoas preferem que a responsabilidade sobre as plataformas seja imputada às empresas tecnológicas (por oposição à acção governamental).

Percepção pública sobre as plataformas

  • Apesar das críticas, os participantes fazem um balanço positivo do impacto das plataformas digitais, tanto do ponto de vista pessoal como social. Estes dados são mais significativos no caso dos motores de pesquisa.
  • Na Alemanha, Reino Unido, EUA e Coreia do Sul, as pessoas pensam nas redes sociais como tendo um efeito negativo na sociedade — embora frequentemente sintam que esses espaços digitais têm um efeito positivo na sua vida pessoal.
  • Entre os problemas provocados pelas plataformas que despertam mais preocupação, encontram-se a disseminação de desinformação (87%), a geração de conteúdos falsos pela IA (84%) e o uso dos dados pessoais por parte das empresas (80%).

O relatório completo está disponível no site do Reuters Institute.

(Créditos da fotografia: Marvin Meyer no Unsplash)