O impacto da desinformação nos meios de comunicação nacionais

Os resultados sobre a percepção da desinformação, que tiveram por base 530 questionários, revelam que os cidadãos estão preocupados com o problema, referindo que o mesmo tem origem no “governo, políticos e partidos” e consideram que o fenómeno da desinformação provoca desconfiança e o afastamento dos leitores.
“Apesar de quase nove em cada 10 (87%) dos inquiridos contactar com notícias através das redes sociais, este é, ao mesmo tempo, o meio em que menos se confia”. O estudo, conclui que 12,2% declara que não pode confiar na maior parte da informação das redes sociais, 13,7% escolhe os cientistas e 56,2% os jornalistas como as fontes que mais confiam. Quanto aos órgãos de comunicação onde procuram informação a maioria dos inquiridos respondeu que o faz, principalmente, na SIC Notícias, Público, RTP1 e Expresso.
Relativamente ao impacto da desinformação nas redacções em Portugal, foram feitas entrevistas a 17 directores e editores de meios de comunicação nacionais, 83% dos meios admite que já difundiu notícias falsas baseadas nas redes sociais. O estudo conclui que a verificação foi reforçada nas redacções.
Há quem justifique a confiança devido à qualidade de alguns meios tradicionais, com especial referência à RTP, à ausência de escândalos sobre os media e ao facto de os media não estarem “polarizados”. No entanto, um terço dos entrevistados considera que os níveis de confiança se devem à iliteracia dos portugueses.
Um tema que reuniu o consenso dos responsáveis entrevistados, foi a necessidade de diferenciar os conteúdos jornalísticos dos outros, sendo sugerido como exemplo o recurso a etiquetas, para assinalar a diferença.
Alguns directores, “sobretudo os detentores de meios de comunicação mais recentes, defendem que o jornalismo não deve ser visto como um negócio e preferem que abdique da publicidade”. “A grande maioria, porém, prefere a conjugação de modelos de financiamento e enaltece o papel do apoio privado, em diferentes modalidades, tais como bolsas”.
O estudo revelou ainda que “os responsáveis que defendem o financiamento público explicam que não tem de ser necessariamente materializado numa forma pecuniária, podendo concretizar-se através de apoios fiscais”.
No respeitante às condições em que a profissão é exercida, “os jornalistas pedem mais respeito pelas escalas de trabalho, pelo tempo de descanso, direito à vida familiar, direito a “desligar”, melhores salários, contractos e mais formação”.
Lisboa, é o distrito onde se concentra o maior número de média, com um total de 482, seguindo-se Porto, com 132, e Braga, com 97. Por outro lado, 27% dos municípios não possuem qualquer meio informativo.
Quanto à principal fonte de financiamento dos media, continua a ser a publicidade em 69% dos inquiridos, as assinaturas em 28% e donativos correspondem em 5% das publicações.
As redes sociais mais usadas pelos media são o Facebook, com 88% e o Instagram, com 49%. O podcast é usado como fonte em 14% dos meios. O recurso ao Tik Tok é residual e conta apenas 1%.
Recordamos que o Iberifer é um Observatório Ibérico de Meios Digitais de Espanha e Portugal, financiado pela da Comissão Europeia e em associação ao Observatório Europeu de Media Digitais (EDMO).
O projecto é coordenado pela Universidade de Navarra, Espanha e tem como principal parceiro ISCTE- IUL. O relatório completo pode ser consultado em: https://iberifier.eu/2023/02/15/iberifier-reports-the-impact-of-disinformation-on-the-media-industry-in-spain-and-portugal/