De acordo com o relatório "Análise do impacto da desinformação na política, economia, sociedade e questões de segurança, modelos de governança e boas práticas: o caso de Espanha e Portugal", a crise e fragilidade económica dos media, em Portugal, é um dos factores de preocupação relativamente à desinformação, conclui o estudo do observatório Iberifier, divulgado pela Lusa.

Segundo esta análise, a compreensão da desinformação, em Portugal, como uma "ameaça externa aos equilíbrios políticos e socioeconómicos internos não é tão consistente", uma vez que "nas esferas política e de segurança cibernética não houve alarmismos até agora".

O estudo feito pelo Iberifier, Observatório Ibérico de Media Digitais e da Desinformação, refere que as recomendações adoptadas pelos "órgãos institucionais encarregados de prevenir e monitorizar a desinformação são tecnicamente coerentes com as recomendações europeias, mas sem, no entanto, se registar um cenário considerado alarmante".

No entanto, "a preocupação com a desinformação é mais justificada" se for considerada "a situação financeira e a vulnerabilidade do ecossistema mediático português". Existe uma "crise prolongada", que teve início em 2008-2011, "acentuada pela pandemia" de covid-19, desde 2020.

"Os dilemas económicos dos media em Portugal" explicam-se com esses factores externos, mas também internos, pela "fraca adaptação ao digital”, pela “tentativa mal sucedida de adaptar o analógico para distribuição de modelos que não favorecem a estabilidade dos conteúdos” e pela “dependência excessiva dos modelos de financiamento no caso da imprensa", assinalam os investigadores.

Os meios de comunicação social "começaram tarde a lutar por um lugar na economia digital, streaming, e tudo o resto parece mais importante do que a económica relação das audiências com o jornalismo", referem.

O estudo aponta, ainda, "a visão mais negativa que emerge na opinião pública sobre os profissionais, induzidos quer por uma incipiente onda populista, acusando o sistema jornalístico, ou pela percepção de que os profissionais falham em monitorizar cuidadosamente os desenvolvimentos no sector".

Esta perda de credibilidade resulta "tanto do desinvestimento público", como do "desinvestimento do sector em profissionais, uma crescente politização do debate mediático por parte dos comentadores (que não são jornalistas, mas são usados pelos media para criar um clima de permanente disputa)".

Outros factores também são considerados, nomeadamente a "hiperaceleração do ciclo do noticiário de 24 horas, a saturação do público com conteúdo específico e o aumento de uma economia de atenção que penaliza fortemente aqueles que dependem da produção de conteúdo".

Esta situação gera um “impacto negativo sobre uma esfera na produção cujo trabalho é difícil e caro de automatizar e fazer com qualidade em ambientes digitais algorítmicos ou não algorítmicos".

Ainda no mesmo estudo, verifica-se que "os dados muito positivos sobre a confiança nas notícias são contrabalançados por vários sinais de saturação de conteúdos noticiosos, crescente desinteresse de notícias, evitação activa de notícias e acesso crescente ao conteúdo de notícias indirectamente em ambientes digitais".

O estudo está disponível, através do link:  https://iberifier.eu/2023/06/21/report-analysis-impact-disinformation-june-2023/