Quando há leitores menos interessados na independência do jornal
“O facto de alguns leitores cancelarem a assinatura pela publicação de um exclusivo que afecta uma ministra de determinado partido político é uma má notícia. Em primeiro lugar, porque implica pôr a política na frente, para deixar em segundo lugar a verdade. Implica dar maior credibilidade a uma pessoa, que alegadamente fez algo de mal, do que ao meio de comunicação encarregado de o investigar e publicar.”
Segundo o texto que citamos, de Media-tics, o jornal eldiario.es já tinha revelado que a ex-presidente Cristina Cifuentes, da Comunidade Autónoma de Madrid, ostentava no seu currículo um mestrado obtido de modo irregular. Mas quando procedeu de modo semelhante em relação a uma ministra do PSOE teve baixas entre os assinantes.
“O curioso deste caso é que o mesmo diário de Ignacio Escolar reuniu dez mil assinantes en poucos meses, os da sua frenética ‘Primavera’ de reportagens exclusivas sobre mestrados alegadamente fraudulentos, nascidos numa Universidade pública que também soube pela Imprensa do que estava a acontecer.”
“Agora, e depois de lermos as palavras de Escolar, não sabemos quantos daqueles assinantes (uns seis mil) vieram porque o primeiro exclusivo afectava exclusivamente a Cristina Cifuentes, que era então presidente da Comunidade de Madrid e política do Partido Popular, e quantos o fizeram para animar os jornalistas de eldiario.es a continuarem a destapar, sem quererem saber da cor.”
“Outros quatro mil chegaram depois dos exclusivos sobre Pablo Casado e Carmen Montón, ainda que esta última (literalmente, porque depois dela não vieram mais) fora a que fizera perder, em paralelo e entre queixas de alguns assinantes.” (...)
Segundo Miguel Ossorio Vega, autor do artigo que citamos, “agora é difícil saber por que motivo alguém se torna assinante de um meio de comunicação”:
“Já não sabemos se por detrás de um leitor que paga há uma pessoa que procura que lhe contem a verdade, ou uma pessoa que procura quem lhe conte a sua verdade. Não sabemos se querem que lhes abram os olhos ou que lhos mantenham fechados.”
“Não sabemos se essa assinatura mensal está realmente a apoiar um meio de comunicação para que funcione como correia de transmissão de um partido político em particular. Se for assim, o meu humilde conselho é que esses 60 euros anuais sejam directamente destinados a pagar a quota do partido em questão.” (...)
O artigo aqui citado, na íntegra em Media-tics, que inclui também o link para o vídeo da entrevista com Iñaki Gabilondo.