Porque devem as comunidades lutar pelo jornalismo local

O declínio do jornalismo impresso foi parcialmente compensado pela mudança para o on-line e por uma catadupa de informações de outros media. Mas a nível local, isso não aconteceu.
Muitos estão cada vez mais propensos a ouvir as “notícias” sobre as tendências de vida de Piers Morgan ou Kim Kardashian no Twitter, do que outras sobre as pessoas com quem compartilham a sua cidade.
O efeito dessa mudança é indiscutivelmente prejudicial para a comunidade. Um jornal local, na melhor das hipóteses, reflecte o lugar em que vivemos na sua total complexidade, as suas celebrações e comiserações, não levam apenas em consideração figuras locais poderosas, mas também molda sentimentos compartilhados, o que ajuda a reunir a história do sitio que habitamos.
O editor do extinto Barrow Herald, em Cumbria, expressou esse relacionamento nos seguintes termos: “Nada interessa mais a um homem do que as notícias do seu próprio bairro. Continuamos os nossos esforços para preencher o nosso jornal de factos que possuam o maior interesse local possível. O nosso principal objectivo é fazer um registo fiel de tudo que possa ser de interesse público para a nossa cidade”.
O que acontece quando esse objectivo é perdido?
Um estudo de 2016 , realizado pelo King's College London, descobriu que, as cidades do Reino Unido cujos jornais locais foram encerrados, mostraram um "déficit democrático" que resultou numa redução mensurável do envolvimento da comunidade local e fez surgir uma crescente desconfiança nas instituições públicas. “Quando os jornais locais são encerrados, as pessoas perdem a voz comunitária”, observou Martin Moore, autor do estudo.
A Cairncross Review revelou que quando agentes imobiliários, revendedores de automóveis e outros retalhistas passaram a anunciar e a divulgar os seus negócios nos “motores de busca", o dinheiro desapareceu.
O colapso que daí resultou, levou a cortes nas redacções e ao emagrecimento dos jornais.
Dame Frances Cairncross, concluiu que apesar de honrosas excepções, os ingredientes que deram às notícias locais a função de contar histórias desapareceram, tornando praticamente inacessível o custo do jornalismo de investigação.
Nas recomendações ao governo defendeu um sistema de financiamento directo de agências de notícias de interesse público e e a atribuição do estatuto de associação não lucrativa para alguns editores. Também recomendou uma investigação urgente do regulador da concorrência, sobre o domínio do mercado publicitário pelo Facebook e Google.
(Mais informação no The Guardian)