“New York Times” experimenta personalização de conteúdos

“Pode acontecer que nós, jornalistas e meios de comunicação, tenhamos compreendido mal o que significa personalizar conteúdos. Até agora pensámos que implicava ajustar a informação segundo o perfil dos utentes; mas a tecnologia permite que não tenhamos de sacrificar a objectividade a essa adaptação aos nossos leitores.”
“Basta criar um algoritmo capaz de identificar os gostos de cada pessoa, para que lhes possa oferecer o que seja de maior utilidade.”
Segundo o autor que citamos, é nisto que está agora a trabalhar o diário nova-iorquino, que admite ter sido cauteloso até ao momento, por causa “do nosso próprio perfecciosismo, a preocupação pelo efeito de ‘bolha de filtro’ e a falta de clareza sobre por que motivo a empresa faria algo como isto” - como explica Nick Rockwell, o director de Tecnologia do New York Times.
Uma das razões para seguir por este caminho, para além da preocupação por manter o envolvimento dos leitores, é ganhar novos assinantes.
“Queremos criar hábitos, que cada sessão [de leitura] seja satisfatória, e precisamos de recompensar a curiosidade do leitor” - acrescenta Rockwell.
A ideia é que, quanto mais se ajustem os conteúdos aos interesses de cada leitor, mais fácil será que ele regresse e um dia se decida a pagar. O que encaixa com a estratégia de plataformas como a Netflix, que oferecem um mês grátis para criar o hábito, “conhecer os gostos do possível futuro assinante e oferecer-lhe mais conteúdos do seu interesse, com o objectivo de que, depois do período de experiência, se resolva a pagar”. (...)
O problema é que muitos utentes “têm sentimentos contrários a respeito da personalização das notícias”, reconhece Rockwell. Ou, como acrescenta Ossorio Vega, “todos queremos estar bem informados e conhecer a verdade, mas só se ela não nos ofende”.
O próprio Rockwell lembra que a Netflix e o Spotify levaram anos a ajustar os seus algoritmos até ao nível de “perfeição” que hoje têm, e que é sempre relativa.
Como conclui o redactor de Media-tics, “haverá sempre a dúvida sobre quando um utente quer um conteúdo semelhante aos que está habituado a consumir, ou quando quer uma descoberta que o obrigue a sair da sua zona de conforto”:
“Parece que a psicologia será outra das competências que, a partir de agora, nós, jornalistas e meios de comunicação, devemos ter, se queremos encarar com êxito o tsunami digital 3.0”
O artigo aqui citado, na íntegra em Media-tics.