Mudanças editoriais na “Science & Vie” comprometem independência
No final do ano passado, os jornalistas da revista científica francesa “Science & Vie” disseram-se preocupados com a sua independência editorial, assinando, por isso, uma moção de desconfiança contra a direcção.
De acordo com um comunicado do Sindicato de Jornalistas francês (SDJ), então, mais de 80% dos colaboradores da revista não concordavam com a estratégia adoptada pelos responsáveis,
Neste grupo incluía-se Hervé Poirier, antigo editor daquela revista, que, em entrevista para o “site” do “Acrimed”, explicou as razões pelas quais decidiu, em Setembro de 2020, afastar-se da publicação.
Segundo indicou Poirier, uma das suas principais motivações foi a perda de controlo editorial, que passou a ser exercido pela Reworld Media.
“O meu contrato estipulava que eu tinha responsabilidade editorial do ‘site’. Mas, durante o Verão, a administração informou-me de que a nossa política estava a ser modificada, de forma a garantir “fluidez”.
Com esta medida -- afirmou Poirier -- a empresa quis certificar-se de que os jornalistas começam a fazer uma versão “low cost” dos seus artigos, negligenciando a objectividade científica, e optando por “conteúdos mais atractivos”.
Ou seja, de acordo com aquele jornalista, o novo editor-executivo da “Science & Vie” passou a ser o Google News, que assinala os temas de maior interesse para o público generalista. Este cenário veio, assim, criar conflitos entre a administração e a equipa de jornalistas.Além disso, Poirier indicou que a administração demorou vários meses para substituir jornalistas. Desta forma, durante a primeira vaga de pandemia, a revista ficou sem nenhum profissional na área de saúde, o que, de acordo com Poirier “é impensável numa revista de ciência”.
Fevereiro 21
Por outro lado, estas mudanças levantaram reivindicações tanto de jornalistas como de cientistas, que consideram essencial que a revista se mantenha isenta e continue a reportar, com rigor, descobertas relevantes.
Poirier considera que estes acontecimentos colocam o Grupo de “media” na berlinda e espera que comece a registar-se uma maior intervenção política para assegurar a independência jornalística.
Contudo, aquele profissional admite que o maior problema passa pelo modelo de negócio dos “media”. No caso da “Science & Vie”, as receitas publicitárias representam uma parte residual do financiamento e, por isso, a administração está a unir esforços para aumentar as receitas de subscrições.
E, embora isto possa ser considerado benéfico do ponto de vista empresarial, põe em causa os valores do jornalismo.
Assim, Poirier espera que os leitores comecem a consciencializar-se da importância da informação de qualidade e que revistas como a “Science & Vie” consigam subsistir através do apoio dos seus assinantes, sem prescindir dos seus valores.
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