Um empresário russo próximo de Vladimir Putin, Yevgeny Prigozhin, fundador do grupo Wagner, entretanto desaparecido, e uma das figuras mais poderosas no Kremlin, admitiu que a Rússia tem interferido nos processos eleitorais norte-americanos. Tal interferência é bem conhecida e já não surpreende.

Surpreendente foi a afirmação recente de Putin de que ele apoiava Biden, mas, tendo este desistido e indicado Kamala Harris, passou também a apoiar esta candidata do partido democrata americano. Não se trata de alguma “inconfidência” de um qualquer elemento do Kremlin — viu-se na televisão Putin a dizer aquilo. Pode tratar-se de uma fraude? É uma possibilidade, pois Putin fala russo e apareceu uma tradução em inglês.

As reacções a estas afirmações de Putin não foram imediatas nem claras — parece que Putin confundiu os seus adversários. Alguns media, na dúvida, terão suspendido uma notícia sobre esta alegada afirmação de Putin.

Muitos jornais, nacionais e estrangeiros, que praticam um jornalismo responsável, não quiseram arriscar e ignoraram o assunto. Creio que não fizeram bem. Poderiam ter manifestado perplexidade e avançado várias hipóteses explicativas da insólita afirmação de Putin, não deixando os seus leitores sem saberem o que pensar. 

No entanto, a cínica manobra de Putin parece-me evidente. Por isso, adianto um comentário.

Putin sabe muito bem que um apoio seu a um candidato americano prejudica eleitoralmente esse candidato. Ele quer que Kamala não seja a próxima presidente dos EUA. Claro que Putin gostaria que Trump fosse de novo presidente dos EUA. Ignoro naturalmente que ele tenha explicado a Trump o jogo que estava a fazer.

Talvez Putin se esteja a divertir com a perplexidade de políticos e jornalistas ocidentais. Mas, muitas horas depois de emitida a notícia segundo a qual “Putin apoia Kamala Harris”, não surgiu qualquer desmentido do Kremlin.