O filtro e a mordaça a partir da Moncloa…
Não há memória recente de tantos profissionais se terem juntado para assinar um documento com estas características, “para denunciar as restrições do Executivo de Pedro Sanchéz e Pablo Inglésias a informar livremente”.
Por estranho que pareça, não se avistou qualquer referência nos media portugueses - habitualmente tão pressurosos em citar os jornais espanhois -, sobre esta atitude antidemocrática da coligação de esquerda que ocupa o poder na Moncloa, em Madrid.
Desta vez, nem o El País, próximo do PSOE, se absteve de relatar, em pormenor, este atentado à liberdade de Imprensa, ao referir que “o problema é o método, que permite ao Governo filtrar as perguntas e excluir a possibilidade de reperguntar”.
Ou seja: “os jornalistas enviam as questões para um chat de WhatsApp – onde estão mais 220 participantes - , e, durante a conferência, é o secretario de Estado de Comunicação, Miguel Ángel Oliver, quem lê, em directo, uma selecção das perguntas formuladas”. Uma habilidade censória.
A situação é tão chocante que até o antigo presidente do governo, Felipe González, também socialista, se diz “desconcertado” com comportamento do actual governo, recomendando que a comunicação seja ”austera, breve, mas o mais directa possível e empática com o estado de ânimo da cidadania”.
Em conclusão: o covid-19 está a provocar o aparecimento de pulsões autoritárias ou restritivas, em Espanha ou na Hungria, à esquerda ou à direita. A tentação de encobrir a verdade e de sufocar o jornalismo independente é grande.
Por isso, não se nota grande preocupação em amparar os media flagelados por esta crise. Afinal, o silenciamento ou intimidação dos jornalistas é o recurso do costume para ocultar a extensão do desastre e a inépcia de governantes em enfrentá-lo.
Em Portugal, o Presidente da República e o primeiro ministro insistiram em afirmar, antes de vigorar o estado de emergência, que “a democracia não está suspensa”. Em Espanha, porém, há um governo, aqui mesmo ao lado, que parece tentado a fazê-lo.