Mesmo Marcelo Rebelo de Sousa, que o conheceu de perto, tão lesto em obituários – até sobre o cantor  George Michael -,  não lhe ocorreu uma palavra de despedida. Nem a Cavaco Silva ou a Marques Mendes, que o convenceram a assumir a administração da RTP.

Freitas Cruz foi um jornalista incómodo, pela sua independência de espírito, apego à liberdade de informação e resistência às pressões do poder do dia. Esse comportamento, avesso a compadrios, paga-se com o esquecimento. E o silêncio apaga o resto.

A memória é cada vez mais a circunstância, o partido, o adro da capela, o jogo de interesses. O jornalismo que hoje se pratica quase não se apercebeu que Freitas Cruz nos deixou.

Mesmo retirado há muito, no seu refúgio de Francelos, nunca deixou de ser um observador permanentemente atento ao pulsar do nosso tempo. Recusou-se sempre a escrever as memórias. E tanto teria para escrever. O jornalismo ficou mais pobre. Mas não deu por isso. Uma tristeza.