Foi recentemente publicado o relatório Da Resiliência à Recuperação: Assegurando o Futuro dos Media Ucranianos (From Resilience to Recovery: Securing the Future of Ukrainian Media, no original), pelos Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e pela The Fix, uma organização dedicada à pesquisa e publicação de informação sobre o sector dos media.

O documento procura apresentar algumas medidas de apoio à sobrevivência da comunicação social na Ucrânia, na sequência da invasão russa de Fevereiro de 2022.

O estado do ecossistema mediático ucraniano

A segurança dos profissionais de media tem estado ameaçada. Nos últimos dois anos e oito meses, foram mortos 12 profissionais de media, 43 ficaram feridos e 30 foram detidos pelas autoridades russas. Pelo menos 20 torres de transmissão televisiva, entre outras infraestruturas, foram destruídas.

O número de jornalistas a trabalhar no terreno é reduzido, sendo difícil o recrutamento de novos profissionais. Além disso, as autoridades políticas e militares têm restringido o acesso dos jornalistas a certas zonas, dificultando a cobertura do conflito.

A disseminação da desinformação tem sido facilitada pela partilha de notícias falsas e propagandísticas através das redes sociais, especialmente o Telegram.

Finalmente, a crise económica, a queda das fontes de receita e o aumento dos custos estão a pôr em causa a subsistência dos meios de comunicação social, com aumento da desertificação noticiosa.

O relatório Da Resiliência à Recuperação

Este documento “mostra a necessidade urgente de nos concentrarmos na reconstrução económica do sector e estima que sejam necessários 96 milhões de dólares (quase 89 milhões de euros) nos próximos três anos para garantir o futuro dos meios de comunicação social independentes”, na Ucrânia, afirma Thibaut Bruttin, director-geral dos RSF, citado pela própria organização.

Nesse sentido, são apresentadas seis recomendações particulamente dirigidas a financiadores internacionais e ao Governo ucraniano:

1. Criação de um Fundo Internacional de Reconstrução dos Media Ucranianos (IFRUM)

A RSF defende que seja constituído um fundo transparente e autónomo, independente do financiamento estatal, gerido por um comité composto por membros isentos e ligados de forma activa ao jornalismo.

2. Distribuição dos fundos condicionada ao cumprimento de padrões éticos

“O jornalismo de confiança deve ser promovido e protegido, e a alocação dos fundos do IFRUM deve ser decidida com base em critérios transparentes e rigorosos”, sugere a RSF.

3. Implementação de medidas económicas adicionais

Para reforçar o sector mediático na Ucrância, o Governo deve adoptar uma série de medidas que permitam à comunicação social retormar os seus investimentos de longo prazo.

4. Reforçar o serviço público

“O governo ucraniano deve valorizar o papel do serviço público da emissora Suspilne, garantindo, ao mesmo tempo, a sua total independência editorial e financeira, em conformidade com os critérios estabelecidos no artigo 5.º do European Media Freedom Act”, lê-se no site da RSF.

5. Pôr fim às restrições e à pressão sobre os media

Os RSF sublinham que não faz sentido manter medidas restritivas como a transmissão da “United News Telemarathon”, iniciativa criada logo após a invasão russa para prestar informação fidedigna à população ucraniana e contrariar a propaganda do Kremlin. Actualmente, estas transmissões têm baixos níveis de aceitação, sendo criticadas e consideradas pouco relevantes.

O Governo deve, ainda, parar de exercer pressão sobre os jornalistas e permitir o exerício do direito à cobertura da guerra.

6. Estabelecer um quadro regulatório para enfrentar a crise da informação online

Deve ser criada uma plataforma independente que publique um relatório anual sobre o estado da desinformação, com análise dos conteúdos que circulam nas plataformas digitais.

(Créditos da imagem: recorte da capa do relatório “From Resilience to Recovery: Securing the Future of Ukrainian Media”)