RSF alegam roubo de identidade por parte da propaganda russa

A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) alega estar a ser alvo de uma campanha de desinformação que promove a agenda da Rússia desde Julho de 2024: “Diversos vídeos que circulam na Internet atribuem à ONG declarações, informações e posições que esta nunca proferiu ou defendeu. Os vídeos utilizam a reputação credível da RSF para fazer com que a narrativa do Kremlin pareça legítima e baseada em factos aos olhos do público”, assegura a organização no seu site.
A RSF identificou seis vídeos online, publicados em pouco mais de seis meses, que roubaram a sua identidade e grafismo, quase todos sobre a guerra na Ucrânia. “Em Setembro de 2024, expusemos o processo de ‘lavagem de informação’ por detrás de um desses vídeos: a informação falsa que apareceu pela primeira vez no clip tornou-se ‘legítima’ quando foi repetida por várias autoridades russas”. Os vídeos incluem alegações sobre soldados ucranianos simpatizantes do nazismo e casos de pressão a jornalistas que trabalham sobre questões relacionadas com a Ucrânia.
“Estes conteúdos falsos e enganadores - que utilizam a reputação credível da RSF para difundir informações falsas - ilustram não só os perigos da desinformação russa, mas também as consequências da inacção de plataformas como o X, a ineficácia da actual luta contra a ingerência informativa e o perigo da passividade dos meios de comunicação social face a estes ataques", refere Thibaut Bruttin, director-geral dos RSF.
Enquanto alguns dos vídeos circularam de forma discreta, a organização assegura que vários parecem ter sido “massivamente disseminados em plataformas como o X e o Telegram, acumulando por vezes centenas de milhares de visualizações”. No X, alguns desses vídeos foram vistos e partilhados centenas de vezes em poucos minutos por bots, “criando a falsa impressão de que eram virais e, portanto, mais credíveis”. A RSF garante que fez “inúmeras denúncias” ao X, mas que a plataforma não retirou os conteúdos enganosos. Estes vídeos continuam, por isso, a circular.
Algumas destas informações “saltaram” do mundo virtual para o real, ao serem repetidas por funcionários de alto nível do Estado russo. A RSF conta que, em 28 de Agosto de 2024, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, transmitiu o estudo inexistente da RSF sobre as tendências nazis dos militares ucranianos durante uma conferência de imprensa, “dando mais validade à informação falsa”.
Paralelamente, a organização expõe que influenciadores pró-Rússia no Telegram têm ajudado a divulgar conteúdos alinhados com a narrativa russa, como um vídeo sobre o congelamento de subsídios da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). “O canal Ucraniando é o exemplo mais recente: com mais de 29 mil subscritores, ajudou a fazer circular um vídeo afirmando que a RSF estava satisfeita com o congelamento dos subsídios. Esta conta, alegadamente gerida por uma mulher chamada Lisa Vukovic, partilha conteúdos sobre a Ucrânia que repetem a narrativa pró-Rússia para o público de língua espanhola. Apenas uma hora depois da publicação, o vídeo foi divulgado pela edição espanhola do site de propaganda russo News Pravda, que citou o canal Telegram como fonte. O News Pravda faz parte de uma vasta e estruturada rede sinalizada pela VIGINUM, a agência francesa responsável pela vigilância e protecção contra interferências digitais estrangeiras".
Além disso, a VIGINUM detectou a campanha Matryoshka, que “dissemina conteúdos falsos fazendo-se passar principalmente por meios de comunicação ocidentais”, incluindo a RSF, que alerta, mais uma vez, para o perigo destas práticas: "Ao sequestrar as identidades de instituições fiáveis e colocar a sua marca em conteúdo falso disseminado em massa, esta táctica mina deliberadamente a confiança do público em informações jornalísticas fiáveis — e remodela a sua percepção dos acontecimentos para a alinhar com a narrativa do Kremlin”.
(Créditos da imagem: RSF)