Jornalistas sírios receiam que se repita em Damasco cenário do Afeganistão
![](https://clubedeimprensa.pt/wp-content/uploads/2024/12/Screenshot-2024-12-20-at-17.42.57.png)
Numa conversa com o Nieman Reports, Lina Chawaf, fundadora e directora da Radio Rozana, uma estação de rádio independente da Síria, partilhou as suas esperanças e preocupações para o futuro relativamente ao trabalho dos jornalistas no país e descreveu como os meios de comunicação social estão a gerir este momento.
No passado dia 8 de Dezembro, caiu o regime do presidente Bashar Al-Assad, governante no poder há 24 anos, por acção do grupo islamista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que tomou o controlo da capital, Damasco, depois de ter conquistado outras cidades no país.
Durante o regime de Assad, todos meios de comunicação social eram controlados pelo Estado, pelo que os jornalistas de órgãos independentes apenas podiam trabalhar no exílio, como é o caso de Lina Chawaf.
Os profissionais aguardam, agora, com incerteza, para perceber qual será a abordagem dos próximos governantes aos media. Ainda assim, a jornalista partilha que já há colegas a fazer reportagem no terreno em Damasco.
“Não sabemos como nos sentir em relação a esta situação. Estamos muito confusos, felizes, mas com medo”, afirmou Lina Chawaf, referindo-se ao facto de saber que os novos governantes não aceitam a imprensa independente.
No entanto, a jornalista revela que “pelo menos, [os correspondentes da Radio Rozana] agora já não têm de se esconder”.
Apesar de estar ciente de que o HTS não acredita na liberdade de imprensa, Chawaf conta que é possível “negociar” com aquele grupo.
Ao contrário do que se passava antes, em que não se podia sequer fazer qualquer tipo de reportagem, por enquanto, o HTS permite que os jornalistas estejam na rua a fazer a cobertura dos acontecimentos e a publicar notícias, embora proíba a cobertura jornalística que lhe é adversa.
Quanto a como os media sírios se estão a preparar para o futuro, a directora da Radio Rozana admite que há a preocupação de que “aconteça algo como no Afeganistão”. “Temos de esperar um pouco” para perceber o que vai acontecer, assume.
Por outro lado, as entidades financiadoras dos meios independentes acreditam que esta pode ser uma boa oportunidade para investir, já que não há imprensa na Síria — “tudo [o que era do regime] colapsou”, explica Chawaf.
Actualmente, a Síria encontra-se no fundo da tabela do Índice de Liberdade de Imprensa dos Repórteres Sem Fronteiras (RSF), ocupando o penúltimo lugar, só à frente da Eritreia.
(Créditos da fotografia: Fotografia do Instagram da Radio Rozana)