A organização sem fins lucrativos que promove a liberdade de imprensa a nível global publicou o relatório Alarm Bells: Trump's First 100 Days Ramp Up Fear for the Press, Democracy (Sinais de alarme: os primeiros 100 dias de Trump aumentam o receio pela imprensa e pela democracia), no qual expõe uma série de preocupações quanto às acções da administração Trump que, de acordo com o Comité para a Protecção dos Jornalistas, colocam em causa a liberdade dos meios de comunicação. 

Katherine Jacobsen, autora principal do relatório e coordenadora do programa do CPJ para os EUA, Canadá e Caraíbas, afirmou em entrevista à Morning Edition que a “enxurrada de acções executivas” por parte de Donald Trump nos seus primeiros 100 dias no cargo “criou um efeito real de arrepio e tem o potencial de restringir a liberdade de imprensa”. 

A exclusão da Associated Press de eventos da Casa Branca, após se recusar a utilizar a expressão "Golfo da América", é um dos episódios citados no relatório, assim como uma investigação da Comissão Federal de Comunicações (FCC) a canais como a NBC, ABC, CBS e NPR. “Estas acções, em conjunto, dão uma imagem realmente alarmante da deterioração da liberdade de imprensa nos EUA”, referiu Jacobsen. 

Em resposta, a vice-secretária de imprensa da Casa Branca, Anna Kelly, disse num comunicado que “não há maior defensor da liberdade do que o presidente Trump, que assinou uma ordem executiva para proteger a liberdade de expressão no seu primeiro dia de regresso ao cargo, pôs fim à instrumentalização da justiça, restaurou mais de 400 credenciais de imprensa para o complexo da Casa Branca e responde diariamente às perguntas da comunicação social”. 

Já em 2023, a administração de Joe Biden alterou os critérios para os chamados hard passes — credenciais que garantem acesso contínuo à Casa Branca — exigindo que os seus detentores tivessem coberto a presidência recentemente e seguido determinadas normas de conduta. Segundo o Politico, nos três primeiros meses após a aplicação das novas regras estavam registados menos 442 titulares dessas credenciais, tendo apenas sido recusado um pedido nesse período. 

Jacobsen alerta para o facto de as acções do governo de Trump estarem a criar uma “estrutura de permissão para que os líderes locais se comportem dessa maneira, tanto nos EUA como fora deles”. 

O relatório destaca ainda que muitos meios de comunicação locais dependem dos serviços da Associated Press para aceder a notícias nacionais e internacionais. “Restringir o acesso da AP à Casa Branca potencialmente limitou os leitores locais por extensão”, explicou Jacobsen. 

Outro ponto crítico do relatório prende-se com investigações da FCC às práticas de financiamento da NPR e da PBS. Brendan Carr, presidente da FCC, manifestou preocupação numa carta enviada aos presidentes de ambas as entidades em Janeiro, alegando que poderiam estar a violar leis federais ao “transmitir conteúdos de carácter publicitário”. Ambos os responsáveis garantiram que as suas práticas estão em conformidade com as normas da FCC. 

O CPJ sublinha que o apelo de Trump à retirada de financiamento federal da NPR e da PBS “ameaça a capacidade de milhões de americanos de obter notícias” e que as investigações a outras redes como a CBS, NBC e ABC estão a criar “a preocupação de que podem enfrentar retaliação”. 

A investigadora acrescentou que o impacto destas medidas poderá fazer-se sentir durante décadas: “É uma espécie de efeito intangível que retarda o processo de reportagem e afasta os meios de comunicação de cobrir histórias que o governo talvez não queira que sejam cobertas”. 

O Comité para a Protecção dos Jornalistas CPJ encoraja os jornalistas a continuarem o seu trabalho. O relatório recomenda a realização de avaliações de risco, o seguimento de orientações de segurança em reportagens e viagens, bem como o acesso a formação de segurança, dispositivos seguros, seguros de saúde e apoio jurídico, tanto para colaboradores como para freelancers

Por último, Jacobsen reforçou a importância do apoio ao jornalismo por parte da sociedade: “O que os jornalistas fazem é responsabilizar o poder. E sem uma imprensa robusta e livre, é muito difícil ter essa responsabilidade”. 

(Créditos da imagem: Unsplash)