Cobertura jornalística em Gaza num contexto de elevado risco

Num artigo publicado pela Nieman Foundation, o jornalista John Daniszewski, colaborador da Associated Press (AP), descreve as circunstâncias fatais dos seis meses de guerra em Gaza para os jornalistas a trabalhar na região.
No dia 7 de Outubro de 2023, o Hamas desencadeou vários ataques concertados em territórios próximos da fronteira com Gaza, matando cerca de 1200 pessoas, a maioria civis, e fazendo 250 reféns, de acordo com a AP. Como resposta, Israel declarou guerra ao grupo terrorista e tem bombardeado intensamente Gaza, destruindo a região, fazendo já mais de 33 mil vítimas palestinianas e forçando a deslocação de 80% da população.
Para os jornalistas locais e internacionais, este é também um contexto de elevado risco, descrito como “sem paralelo e sem precedentes” por Sherif Mansour, coordenador do programa do Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) na região do Médio Oriente e África, citado no artigo da Nieman Foundation.
“Em vários sentidos, este tem sido o ambiente mais perigoso que já vimos para jornalistas”, diz o responsável.
Tal como a população geral, os jornalistas também têm tido dificuldade em encontrar abrigo, comida, água e recursos para continuarem o seu trabalho. “Até áreas consideradas seguras têm sido cada vez mais bombardeadas”, pode ler-se no artigo.
No total, em Gaza, foram mortos 95 jornalistas e profissionais de média até ao fim de Março, dos quais 90 são palestinianos, três libaneses e dois israelitas, dados do CPJ.
Embora não seja fácil determinar o número de fatalidades ocorridas em contexto de trabalho como resultado de ataques intencionais, pelo menos nalgumas dezenas de situações há indícios de que os jornalistas foram deliberadamente tomados como alvo.
Além dos ataques directos, as forças israelitas usam outras estratégias para intimidar e impedir o trabalho dos profissionais, incluindo ameaças e detenção de jornalistas, ciberataques a sites de média e contas pessoais de jornalistas, e censura, com o fecho de redacções. O CPJ publicou recentemente um artigo extenso com a descrição de cada uma destas estratégias.
Tem sido verificada também a obstrução à entrada de jornalistas estrangeiros, incluindo da BBC e da Al-Jazeera, pelo que o livre acesso à informação na região está a ser posto em causa.
“Precisamos de jornalistas para entender as motivações das partes em conflito e as implicações das suas políticas. Se não tivermos jornalistas, perdemos a janela para o que está a acontecer”, refere Sherif Mansour.
Segundo os dados do CPJ, foram mortos mais profissionais nesta região em seis meses do que em qualquer ano em todo o mundo, desde 1992. A organização continua a fazer o registo de todos os jornalistas mortos, feridos, detidos e vítimas de outras formas de ataque pelas forças israelitas.
Numa altura em que passaram seis meses desde o início da guerra, o artigo no Nieman Reports presta homenagem a alguns dos profissionais mortos em Gaza, com uma breve descrição do seu trabalho e do contexto em que estes morreram.