Onde se preoconiza que “nenhum jornalista consegue ser totalmente objectivo”
Em 19 de Junho de 2021, a tragédia humanitária provocada pela pandemia da Covid-19 chegou à marca de meio milhão de vítimas no Brasil. Nesse mesmo dia, os apresentadores do Jornal Nacional, da Rede Globo, leram um editorial crítico do governo de Bolsonaro.
No final dessa edição, William Bonner afirmou: “Tudo tem vários ângulos e todos devem ser sempre acolhidos para discussão, mas há excepções. Quando estão em perigo coisas tão importantes como o direito à saúde, por exemplo, ou o direito de viver numa democracia, em casos assim não há dois lados. E é esse o norte que o jornalismo da Globo continuará a seguir” .
Segundo notou Samuel Pantoja Lima num texto publicado no “Observatório da Imprensa”, esta declaração veio abrir um debate sobre os valores basilares do jornalismo: a isenção e a objectividade.
Conforme recordou o autor, estes valores passaram a definir a actividade jornalística de qualidade a partir do final do século XIX, quando a imprensa deixou de servir os interesses de partidos políticos, e passou a actuar segundo uma perspectiva empresarial.
Com isto, as organizações noticiosas procuraram atrair novos leitores, sob a premissa de que iriam informar os cidadãos de forma plural e isenta.
Contudo, tal como indicou William Bonner naquela edição do Jornal Nacional, parece haver excepções à regra.
Uma situação semelhante ocorreu, em 2020, nos Estados Unidos, quando a jornalista Nikole Hanna-Jones, do “ New York Times”, publicou a série de reportagens “Projecto 1619”, sobre a chegada do primeiro navio de escravos ao país.
De acordo com Bonner, este projecto recebeu diversas críticas, já que vários leitores consideraram que Hanna-Jones não havia sido objectiva, e que o seu trabalho se aproximava do activismo.
Por sua vez, numa entrevista concedida ao “Folha de S. Paulo”, aquela profissional afirmou que “nenhum jornalista consegue ser totalmente objectivo”.
Julho 21
“Quando nos tornamos especialistas em alguma temática -- prosseguiu -- acabamos por formar as nossas próprias opiniões. Precisamos de ser objectivos nos métodos de reportagem. Ter a certeza de que a nossa investigação é verdadeira e justa. Mas não precisamos de fingir que não temos sentimentos sobre aquilo que cobrimos”.
“No que diz respeito ao activismo, considero que é diferente do jornalismo. Mas também penso que, em certa medida, o jornalista acaba por ser um activista já que, nos EUA, acreditamos que os ‘media’ existem para responsabilizar pessoas em posições de poder, e para dar voz aos mais vulneráveis”.
“Acreditamos que o jornalismo é necessário para a democracia. E qualquer posição que tomemos vai ser activa, nunca será neutra. O meu activismo toma forma quando escrevo e exponho injustiças. Há quem o faça através de manifestações nas ruas”.
“Não acho que deva estar envolvida nas duas frentes, mas não posso fingir que não exista activismo por detrás das minhas motivações para me ter tornado jornalista”.
Perante estas declarações, o autor considera que o actual panorama jornalístico está a desafiar a própria definição da profissão, levando-nos a encarar os “media” como uma forma social de conhecimento humano.
Contudo, reforça Pantoja Lima, isto não significa que os jornalistas possam abdicar do rigor investigativo, sem esquecer a diversidade de opiniões e de pontos de vista presentes na realidade histórico-social.
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