Agustina Bessa-Luís: a palavra insubstituível e a imensa obra

Curiosamente, o seu despertar para a descrição do mundo começou pela imagem, neste caso pelo cinema, antes da escrita.
Começou a ler muito cedo, aos quatro anos. A sua própria memória de vida, recolhida em entrevistas que aqui citamos do Observador, parte deste ponto: “Quando aprendi a ler, no mundo fez-se luz e passei a compreender tudo.” A escrita chegou mais tarde.
Quando era pequena, o pai tinha um cinema no Porto. A família vivia em Águas Santas, na Maia, e Agustina costumava ir todas as quintas-feiras ao cinema do Porto. Era o pai que a levava. “E deixava-me em liberdade” - contou em 2003 a Anabela Mota Ribeiro.
“Havia um café-concerto, uma sala de exposições, um jardim, onde se projectava cinema no Verão. Foi esse enamoramento da imagem, antes da escrita, que tive como campo de descoberta.”
Estes caminhos cruzados levam a que várias obras suas tenham sido adaptadas ao cinema pelo realizador Manoel de Oliveira, “e assim foram vistas, além de lidas: Fanny Owen (1981, adaptado para Francisca), Vale Abraão (1993), As Terras do Risco (1995, adaptado para O Convento) e O Princípio da Incerteza (2002).”
“Ela escrevia, ele filmava: foi uma parceria criativa que durou mais de duas décadas e resultou em quase uma dezena de filmes - com alguns ‘confortáveis conflitos’ pelo meio.”
“A autora escreveu ainda, para Oliveira, os diálogos de Party (1996), a partir da sua peça de teatro Party: Garden-Party dos Açores. Do seu conto A Mãe de um Rio Oliveira havia de fazer Inquietude (1998). E também o realizador João Botelho adaptou um romance seu, em 2009: A Corte do Norte.”
O velório da escritora decorre na Sé Catedral do Porto, a partir das 10h.30 de terça, 3 de Junho, com as exéquias solenes celebradas pelo Bispo do Porto, D. Manuel Linda, às 16 horas. Foi decretado para este dia luto nacional.
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