Carlos Castilho, que foi editor do mesmo Observatório, afirma: 

“Olhando para trás nestes doze meses sem Dines, sinto que ele nos deixou justo no momento que tornou-se uma referência obrigatória no debate sobre as notícias falsas (fake news). Seu rigor ético e sua autoridade moral como jornalista são virtudes que, seguramente, levariam a discussão para outros rumos, evitando o bate-boca político ou o tecnicismo de soluções baseadas apenas em bytes e bits.” 

A questão de fundo, para o autor, é precisamente esta, da responsabilidade diante da desinformação, precisamente porque “ocorre num ambiente complexo em que é muito difícil oferecer soluções dicotómicas definitivas, tipo certo ou errado, verdadeiro ou falso”: 

“A técnica e os procedimentos classificados como científicos não conseguem eliminar todas as incertezas e dúvidas sobre a credibilidade de notícias. É num contexto como esse que a ética e a autoridade moral de profissionais como Alberto Dines se transformam em paradigmas capazes de orientar quem está inseguro sobre como avaliar a confiabilidade de uma informação.”  (...) 

“Eu mesmo divergi de Dines em várias ocasiões ao longo dos meus treze anos de Observatório da Imprensa”  - afirma Carlos Castilho -  “mas confesso que me sentia mais seguro errando com ele do que acertando sozinho; é essa referência que faz muita falta a vários dos meus colegas numa profissão que está sendo obrigada a rever quase tudo em matéria de rotinas de trabalho, princípios e valores.”

“Outra preocupação que Dines transformou em uma quase obsessão foi a necessidade de desenvolver o hábito da leitura crítica, de ler nas entrelinhas e de praticar a desconfiança responsável. São atitudes que estão sendo atropeladas pela frenética busca de sobrevivência entre os veículos de imprensa, grandes e pequenos. Sem leitura crítica, não há como lidar com as notícias falsas de uma forma isenta.” 

“Dines faz muita falta porque, ao longo de sua carreira e principalmente no Observatório da Imprensa, conseguiu um raro equilíbrio entre inovação e cautela na hora de definir estratégias para o exercício do jornalismo. Houve momentos em que ele incentivou a quebra de modelos estabelecidos, enquanto noutras ocasiões freou o ímpeto inovador de alguns de seus subordinados. 


É justamente essa postura, aparentemente contraditória, que hoje faz tanta falta à profissão no momento que ela assume um protagonismo central na questão das fake news.”  (...) 

O historial do processo que levou até à construção do Observatório da Imprensa, já aqui contado em devido tempo, é novamente recordado por vários dos que continuam presentes. 

“É o Projor que lidera o Projeto Credibilidade, lançado no dia 8 de Maio em São Paulo, formado por um consórcio de veículos que representam o capítulo brasileiro do Trust Project e seguem estratégias digitais para que os pilares básicos do jornalismo sejam cumpridos: servir a sociedade com relatos confiáveis, inteligentes e tangíveis.”  (...) 

Entre outros autores citados, Eugênio Bucci “lembrou o pioneirismo de Dines no chamado media criticism e no jornalismo digital, com a criação do portal do Observatório da Imprensa

O jornalista Caio Túlio Costa, por seu lado, “faz uma descrição do cenário actual do jornalismo, particularmente no Brasil, para lembrar que Dines sempre esteve ao lado da crítica, da busca pela qualidade e da convivência com os mais jovens”: 

“Na história da Imprensa, o que conta, observa Caio, não é o que é publicado, mas o que vai para a cesta. E Dines foi daqueles que publicaram o que ia para a cesta.”  (...)

 

Mais informação  no Observatório da Imprensa