A realidade virtual e as experiências jornalísticas imersivas
Alguns meios de comunicação já estão a usar a tecnologia de realidade virtual (RV) para criar experiências jornalísticas imersivas, reporta a International Journalists’ Network (IJNet).
Trata-se de criar, com recurso a programas de computador, ambientes interactivos que podem ser explorados através de óculos de RV. Os espectadores têm a oportunidade não só de observar os locais físicos numa perspectiva de 360º, mas também de ouvir os sons próprios desses contextos, sejam eles protestos políticos, acontecimentos culturais ou cenários mais sensíveis, como campos de refugiados, prisões ou situações de conflito.
Alguns exemplos destas experiências jornalísticas em RV são o documentário “We wait”, da BBC, em que o espectador se encontra sentado num bote salva-vidas com refugiados que cruzam o mar Mediterrâneo; a experiência “6x9”, do Guardian, passada dentro de uma cela solitária; e o projecto “This is My Home”, do Frontline in Focus, que transporta a audiência até uma escola destruída na Síria transformada num abrigo de refugiados.
No caso da Frontline in Focus, o público-alvo são os jornalistas e os funcionários de organizações não-governamentais, uma vez que o objectivo da instituição é proporcionar a estes profissionais a possibilidade de serem transportados, ainda que virtualmente, para áreas de difícil acesso e sobre as quais precisam de estar informados de forma tão completa quanto possível.
“A realidade virtual é uma ferramenta poderosa, que adiciona elementos interactivos às nossas histórias, imergindo a audiência no meio de um acontecimento ou permitindo que ela vivencie uma história de todos os ângulos", considera Hadeel Arja, co-fundadora do Frontline in Focus.
Entre as potenciais vantagens da utilização da RV no jornalismo está o aumento da empatia com as pessoas que passam pelas situações reportadas, bem como do nível de consciencialização sobre os temas. Também a “interacção”, o “impacto” e o estímulo para a “acção” são possíveis consequências das reportagens com recurso à RV, sendo estes “objectivos centrais do jornalismo”, refere Hadeel Arja.
Cuidados a ter nas reportagens com RV
“Embora o potencial da RV no jornalismo seja vasto, ele vem acompanhado de desafios”, alerta a peça da IJNet.
Por um lado, é preciso garantir, de forma reforçada, o rigor do conteúdo, “já que a natureza imersiva deste meio pode tornar qualquer tipo de desinformação particularmente impactante”.
Associada a esta advertência, está o impacto psicológico e emocional da experiência imersiva propriamente dita. “O jornalismo em RV ético” deve procurar formas de “garantir que o conteúdo não provoca danos” nos espectadores, afirma Hadeel Arja.
No entanto, este cuidado é muito difícil de assegurar, uma vez que os espectadores, muitas vezes, são transportados para lugares que desencadeiam reacções viscerais perturbadoras.
Além disso, tal como em qualquer trabalho jornalístico, é preciso “respeitar a privacidade dos indivíduos retratados” e não “revelar informações pessoais sensíveis sem consentimento", lembra a co-fundadora do Frontline in Focus.
Finalmente, a transparência com o público é também muito relevante, o que implica, por exemplo, dar informação sobre a forma com a RV é usada e como os cenários são construídos.
Limitações técnicas e orçamentais
“Apesar de estar a melhorar, o custo e a acessibilidade da tecnologia de RV continuam a ser barreiras” ao seu uso de forma mais alargada.
Uma reportagem em RV exige investimento em equipamento, como câmaras 3D, e conhecimento técnico para produzir as imagens, bem como bom acesso à internet.
Hoje em dia já existem alternativas mais baratas do que as câmaras 360º, que facilitam a viabilidade financeira, refere o artigo da IJNet, citando um relatório da BBC.
(Créditos da fotografia: Lucrezia Carnelos no Unsplash)