Premiar o jornalismo independente no exílio
A notícia é recente e documenta até onde pode ir o entendimento vesgo de alguns regimes políticos que não se reconhecem em democracia. A Nicarágua decidiu sair da Unesco pelo facto desta prestigiada e respeitada organização internacional ter anunciado a atribuição de um prémio de liberdade de Imprensa ao jornal local La Prensa, quase centenário, fundado em março de 1926.
A decisão do governo liderado por Daniel Ortega ilustra bem como o regime lida mal com a liberdade de Imprensa, e é o corolário da repressão que tem sido exercida contra qualquer tentativa de exercer um jornalismo independente na Nicarágua, que vive perseguido e asfixiado.
Recorde-se que o jornal La Prensa deixou de ser impresso na Nicarágua desde 2021, sendo agora publicado exclusivamente online e produzido por uma equipa de jornalistas no exilio, mantendo uma atitude crítica em relação ao governo de Ortega, no poder depois de 2007.
Será oportuno recordar, também, que a Nicarágua é o país latino-americano em pior posição no ranking da Repórteres sem Fronteiras, depois do regime de Ortega ter eliminado, na prática, os media independentes, forçando centenas de jornalistas ao exilio.
A Nicarágua emparceira com Cuba ou a Venezuela, cujos regimes não respeitam as regras democráticas, caracterizando-se pela repressão continuada das liberdades cívicas e de expressão.
Por isso, este prémio da Unesco, que distinguiu o esforço notável dos jornalistas de La Prensa em manterem vivo o projecto, tanto irritou as autoridades sandinistas, ao ponto de romperem com uma organização que há muito integravam.
É uma vitória para o jornalismo e, infelizmente, mais um revés para quem ainda tivesse uma ténue esperança de mudança na política da Nicarágua.