O jornalismo enfrenta desafios complexos no mundo, seja pela via “da concorrência“ da inteligência artificial (IA), seja pelos riscos associados ao exercício da profissão em cenário de conflito — ou em regimes autocráticos, por natureza hostis à liberdade de Imprensa —, seja pela precariedade crescente no emprego, ou seja, ainda pela falta de transparência e de pluralismo nos media escritos e audiovisuais.

O jornalista e investigador Carlos Castilho acrescenta-lhe um outro desafio, ao escrever no Observatório da Imprensa do Brasil, parceiro do CPI — “enfrentar os influenciadores ou ajudar as pessoas a enfrentar o caos informativo”.

Perante o crescimento explosivo dos influenciadores digitais, que pululam na Internet e, em especial, nas redes sociais, num novo e milionário negócio, envolvendo “publicidade própria e de empresas”, Castilho defende que o jornalista terá uma função cada vez mais relevante como “curador de notícias”.

Na prática, o que se preconiza é que o jornalista seja “um profissional capaz de servir de referência na escolha da informação mais confiável”.

O fenómeno dos “influencers” ganhou, também, expressão em Portugal, contando já com alguns casos de assinalável sucesso, enquanto o jornalismo se ressente com o aumento das incertezas no emprego e a deliberada confusão em que incorrem alguns media, entre a informação e a publicidade.

Houve, aliás, uma acentuada quebra de confiança nas notícias consumidas, na ordem dos 13 pontos percentuais em comparação com 2015, como é reconhecido no mais recente relatório do Reuters Institute, contribuindo, assim, para a descida de Portugal no “ranking” de “segundo/terceiro país em 46 estudados” para se fixar, este ano, no sexto lugar.

São os novos constrangimentos que o jornalismo tem dificuldade em superar, até pela pressão ideológica e empresarial no interior das redacções.

No meio do “caos informativo” e da desinformação manipulada, a desejável intervenção do jornalista como “curador de notícias” arrisca-se a ser uma utopia, se a sua independência não estiver salvaguardada.

Infelizmente, os sinais são preocupantes, e materializam-se nas perseguições a jornalistas, tantas vezes denunciadas por instituições respeitáveis, como os RSF, com elementos bem fundamentados, enquanto se multiplicam as formas de censura, às claras e dissimuladas.

O jornalismo atravessa uma fase perigosa e convive, diariamente, com as mais variadas e sofisticadas armadilhas.

Entre a evolução tecnológica, os “influencers” e o aperto financeiro nas tesourarias das empresas editoriais, o jornalismo rigoroso, imparcial e sério não está fácil…