Opinião
A vertigem digital
O mercado dos media portugueses anda agitado. Nos últimos meses, mudaram de mãos as rádios da Media Capital, adquiridas por um grupo alemão; o Jornal Económico (e, provavelmente, o semanário “Novo”), que passou a ser titulado por um investidor angolano; e o semanário “Sol” e o diário “i”, detidos pelo jornalista Mário Ramires, que transitaram para o universo de um fundo português de capital de risco, que, entretanto, já controlava a maioria do capital da Euronews.À primeira vista parecem ser boas notícias, enquanto os novos accionistas prometem respeitar a independência editorial e melhorar a robustez dessas empresas que, em alguns casos, enfrentavam dificuldades. Antes da pandemia já os media portugueses - e a Imprensa em particular -, viviam num clima frequentemente depressivo, com a quebra simultânea da circulação e da publicidade. Os efeitos do covid, implicando fortes restrições, e os medos exagerados que as televisões alimentaram e ampliaram “ad nauseam”, mais agravaram a deterioração das vendas de jornais e de revistas, que derraparam nalguns casos para níveis residuais impensáveis.Mesmo assim, verifica-se que continuam a aparecer investidores interessados em apostar na Imprensa e noutros media, com a aparente convicção de que têm futuro.Claro que a Internet e as redes sociais se transformaram nos principais adversários da Imprensa, embora seja o terreno mais propício à desinformação e à manipulação da opinião pública. O certo é que é um fenómeno cada vez mais entrosado socialmente, sobretudo nas camadas jovens, que confessam, abertamente, ser esse o seu meio privilegiado de contacto com o fluxo noticioso.Por isso, começou a instalar-se a tendência para as multiplataformas, onde a Imprensa pode interagir com a internet, ou mesmo o áudio e o vídeo. E cada vez são mais os jornalistas desafiados a serem capazes de trabalhar em diferentes suportes mediáticos.
Julho 22
Apenas três exemplos portugueses: a Rádio Renascença dispõe hoje de um site com actualização permanente, que “concorre” com os blocos noticiosos regulares da emissora católica nas suas várias frequências.
Pelo contrário, o Observador, como projecto original online e prevalecendo-se da aceitação obtida através da internet, lançou uma rádio, e criou um conjunto de publicações periódicas temáticas, dirigidas a nichos de mercado.
Mais recentemente, a CNN Portugal, que ocupou a antena da TVI 24, apresenta-se igualmente com um site noticioso multidisciplinar, que complementa a emissão televisiva.
São iniciativas que merecem ser acompanhadas, quer pela inovação que envolvem, quer ainda pelo esforço financeiro que representam.
Dir-se-á, por isso, que a nossa paisagem mediática inclui experiências que devem ser seguidas com atenção. Há muito que o leitor deixou de esperar pelo jornal. Quem queira estar informado, dispõe hoje de uma panóplia imensa de opções. E mesmo as televisões têm, por vezes dificuldade, em competir com a vertigem digital.
Mas o futuro só será incerto para quem não souber - ou não puder - evoluir e aprender com os avanços tecnológicos. Depois, talvez nunca tenha sido tão fundamental ao poder político influenciar ou tentar dominar os media. Mas essa é outra história…