A saturação noticiosa
O alargamento do formato dos principais blocos noticiosos nas televisões generalistas, associado ao aumento da oferta de canais temáticos de informação poderá explicar, em parte, a saturação dos portugueses, assinalada no último relatório do Reuters Institute.
De facto, o relatório identifica 51% dos portugueses que concordam com a afirmação de que “estou saturado com a quantidade de notícias que há hoje em dia”, o que representa uma progressão em nove pontos percentuais, comparativamente com os resultados do mesmo estudo no ano passado.
Longe vai o tempo em que os portugueses esperavam pelo seu jornal, fosse nos grandes meios urbanos ou na província, onde esse comportamento era ainda mais substantivo.
O desenvolvimento acelerado do audiovisual, servido por equipamentos cada vez mais sofisticados, colocando literalmente a notícia à distância de um click do consumidor, alterou profundamente o perfil do mercado e a lógica relacional.
A oferta audiovisual cresceu exponencialmente, e não apenas em Portugal, com as soluções digitais a imporem-se e a disputarem o mercado aos media tradicionais.
Em paralelo com a multiplicidade de canais de informação, há uma originalidade portuguesa que estará a beirar, também, a saturação, que é o excesso de comentadores, designadamente, nas áreas política e desportiva.
Então, no primeiro sector, começa a ser difícil encontrar um político, e em especial, ex-governante que não queira mostrar as suas “habilidades” e fazer o seu tirocínio de comentador.
Claro que o resultado, na maioria dos casos, só poderia ser desastroso. Mas que importa. A vaidade, o valor do “cachet” e o ego inflacionado, compensam.
E se a percentagem de portugueses que evitam as notícias progrediu de 35% para 37%, entre 2023 e 2024, ainda segundo o estudo da Reuters, é de prever que o mesmo fenómeno seja ainda mais acentuado quando se trata de avaliar a relação com a miríade de comentadores.
Estas e outras conclusões do relatório da Reuters são um oportuno roteiro para uma avaliação do estado das coisas na paisagem mediática, e um convite à reflexão de quem se mantiver fiel ao princípio de que a informação rigorosa e independente é vital para a sobrevivência da democracia, espartilhada entre os dois extremos que a tentam sufocar.