A outra lição da derrota dos media e das sondagens
Falharam os institutos de sondagens, falharam os media. Depois do Brexit, foi a vez da América acordar com um resultado ao contrário do que lera e ouvira como certo. E porque falharam então e falharam agora as sondagens e os media?
Não faltarão estudos especializados sobre esse grande logro. Afinal, quem manipula e engana quem? Os eleitores que escondem dos inquiridores no terreno a verdade da sua intenção de voto ou serão as sondagens que distorcem, por incompetência ou intencionalmente, a vontade dos eleitores? E porque se enganam a Imprensa e as televisões nos palpites que arriscam, aliás, em íntima conexão com os formatos de cobertura política que privilegiam?
A cobertura dos eventos e dos actores políticos tem vindo a ficar comparável à dos grandes eventos desportivos.
Em Portugal, a seguir ao “directo” de um grande jogo de futebol, os estúdios de televisão fervilham de comentadores, que utilizando mais tempo de antena do que o ocupado pelo próprio jogo, insistem, em tom catedrático, em reescrever aquilo que o espectador acabou de ver. Como se ele não tivesse visto nem percebido nada do que viu. Cansa e satura.
Este estado de coisas – esta forma de umbiguismo –, aplicado no campo político, assumiu um inusitado protagonismo, tanto em Portugal, como Europa fora, como na América. Os media fabricam uma realidade distanciada das populações. As sondagens imitam-nos e vão na corrente. E as consequências estão à vista.
Enquanto funcionarem as regras democráticas, o voto pode desmentir a vontade feita por jornais, televisões, comentadores, intelectuais. E os populismos não emergem por acaso.
Na Europa, despontam populismos dramáticos, à esquerda e à direita. Tão perigoso é o populismo do Pablo Iglésias como o de Marine Le Pen. Ambos estarão, decerto, felizes com a vitória de Donald Trump, assumindo-o ou não.
Os extremos vão sentir-se encorajados, tal como o Brexit estimulou os nacionalismos que levantaram cabeça e cujo credo e programa é contrariarem os normativos ditados por Bruxelas, recorrendo a linguagens soberanistas não raramente primárias...
O mundo está a mudar. Por força de fanatismos de um lado, e de cansaços e comodismos do outro. Se não mudarmos, as sondagens, os media, o jornalismo, continuarão a errar, porque renunciaram à vocação de prever e de informar com rigor, para se contagiarem de “verdades” feitas por medida.
Trump foi servido como um reality show, amiúde de mau gosto e com culpas próprias. No Brexit, houve protagonistas políticos que assumiram terem deliberadamente mentido para convencer os eleitores a trancar a porta à UE. Haja quem aprenda a lição, se ainda houver tempo. Brinca-se com o fogo. E quando se ateia e fica fora de controlo, chamam-se os bombeiros em pânico. O pior, é que alguns deles também são pirómanos…