Divergências sobre metodologia no estudo do “Reuters Institute”

Maria Ressa, do jornal online filipino Rappler, diz que a metodologia do Relatório de Notícias Digitais, do Reuters Institute, dá espaço para atacar os jornalistas.
A jornalista filipina, fundadora do site de notícias independente Rappler, que ganhou o Prémio Nobel da Paz, em 2021, diz que o Relatório de Notícias Digitais, usou uma metodologia defeituosa para medir a confiança do público, o que levou o instituto a reagir.
Ao saber da opinião da jornalista, o Reuters Institute para o Estudo do Jornalismo, com sede na Universidade de Oxford, twittou: “lamentamos que o nosso trabalho tenha sido utilizado de forma abusiva e que Maria Ressa ache que a nossa metodologia corre o risco de prejudicar os media”.
“Não basta lamentar quando o seu trabalho é usado para atacar jornalistas em países «inconvenientes». A pesquisa jornalística não tem integridade, se colocar em risco os jornalistas”, disse Ressa também no Twitter.
O Digital News Report pesquisa o público em seis continentes e 46 mercados e apresenta as principais descobertas sobre como as pessoas comuns encontram informações sobre o mundo ao seu redor, incluindo a confiança nas marcas de notícias. Entre os entrevistados nas Filipinas, a Rappler recebeu a menor pontuação de “confiança” e a maior percentagem de “desconfiança”.
O director do instituto, Rasmus Kleis Nielsen, escreveu num artigo que a organização reviu a sua metodologia e considerou-a sólida. No entanto, alertou que a pesquisa não deve ser usada, “por exemplo, para fazer alegações falsas de que o Rappler é a organização de notícias nas Filipinas menos confiável”.
Nielsen diz que o instituto revê constantemente a sua metodologia e que Ressa já esteve envolvida nesse processo anteriormente. Ressa, por sua vez, disse ao The Guardian, que renunciou ao conselho consultivo do Reuters Institute no ano passado, por causa das suas preocupações.
“Entidades oficiais do governo estavam a citar o Reuters Institute para o Estudo do Jornalismo da Universidade de Oxford, para nos atacar”, referiu ao The Guardian.
Um artigo de análise no Rappler ao relatório do ano passado, referiu que o mesmo observou que "meios de comunicação independentes respeitados pelas suas reportagens sobre pessoas em posições de poder, costumam ser activamente descredibilizados por apoiantes dos políticos em questão". Mas, sobre esta situação, a escritora Gemma Mendoza, diz que o relatório não chega a “traçar uma relação causal entre desinformação online e confiança” e também não leva em conta a influência das redes sociais.
Já o redactor do Washington Post, Paul Farhi, embora não abordasse os comentários de Ressa, twittou sobre o relatório: “essa «confiança» nas pesquisas sobre os media, raramente faz uma pergunta relevante de acompanhamento: quando foi a última vez que você leu/viu/ouviu notícias dos meios sobre os quais diz que confia ou não? Eles presumem que as pessoas tenham experiência directa com várias fontes de notícias”.