O tribunal de Paris ordenou o bloqueio do site News.DayFr, acusado de plagiar artigos de cerca de 40 meios de comunicação franceses e de os reproduzir com o auxílio de inteligência artificial (IA). 

“Com um design quase inexistente, uma apresentação deficiente, traduções literais sem sentido, uma hierarquia de informação indistinguível e uma iconografia deficiente, o News. DayFr não é um meio de comunicação social como outro qualquer”, começa por explicar o Le Monde. Com base numa queixa apresentada por órgãos de comunicação social como o Libération, La République du Centre, La Montagne, Le Télégramme ou La Dépêche du Midi, o site explorava conteúdos legítimos produzidos por jornalistas, replicando-os automaticamente com auxílio de IA. 

O News.DayFr “reproduz quase servilmente” os conteúdos dos jornais e sites noticiosos”, afirmaram os advogados Emmanuel Soussen, representante do Libération, e Christophe Bigot, em nome de todos os queixosos. 

A sentença foi emitida a 7 de Maio e obriga os principais fornecedores de acesso à Internet em França a bloquear o acesso ao site por um período de dezoito meses. 

A decisão baseou-se num relatório elaborado por um oficial de justiça em Dezembro de 2024, que identificou uma extensa lista de conteúdos plagiados. O juiz considerou que “a Aliança e as editoras tinham o direito de pedir a protecção das obras do seu catálogo” e o director-geral da Alliance de la Presse d’Information Générale (APIG), Pierre Pétillault, declarou que se verifica “uma violação dos direitos de propriedade intelectual, mas trata-se também de desinformação e, portanto, de uma questão social”. 

Está a ser posta em cima da mesa a possibilidade de estabelecer parcerias com operadoras de telecomunicações para enfrentar estes casos de forma colectiva, uma vez que, com o crescimento da IA generativa, se espera “um aumento significativo no número de infrações”. 

É difícil quantificar os sites alimentados por inteligência artificial, no entanto, um relatório actualizado em Fevereiro pela organização NewsGuard, especializada na monitorização da fiabilidade das fontes de informação, identificou 1 254 sites gerados por IA considerados “não fiáveis”. Estes estão disponíveis em 16 línguas, incluindo francês, inglês, alemão, árabe e chinês.  

“Estes sites assumem nomes genéricos como iBusiness Day, Ireland Top News ou Daily Time Update, para parecerem meios de comunicação legítimos”, alerta a NewsGuard. Os conteúdos, frequentemente descontextualizados, copiados ou manipulados, “poluem a web” e distorcem o ecossistema informativo. 

Para o Le Monde, a proliferação de sites com conteúdo gerado por IA pode “constituir um problema democrático, especialmente se a sua proliferação levar as futuras IA a treinar os seus conteúdos de baixa qualidade, reforçando potencialmente a desinformação”. Além disso, representa um desafio económico para os media profissionais. Segundo a NewsGuard, estes sites lucram com anúncios programáticos, que são automaticamente exibidos sem avaliar a credibilidade do conteúdo. Isto cria um incentivo financeiro para a multiplicação dos sites não confiáveis. “Se as marcas não tomarem medidas para excluir estes sites, os seus anúncios continuarão a aparecer e constituirão um incentivo económico para a criação de mais e mais sites, em grande escala”. 

(Créditos da imagem: Captura de ecrã retirada do site do Le Monde)