Os investigadores que estudam os meios de comunicação dos Estados Unidos não se devem concentrar apenas no exemplo do The New York Times (NYT), porque este difere drasticamente de outros meios de comunicação de notícias, diz John Maxwell Hamilton e Heidi J. S. Tworek, num artigo publicado na revista Political Communication.

Hamilton, professor de jornalismo da Louisiana State University, diz que “o problema é que a publicação não é representativa dos meios de comunicação dos EUA – é um caso atípico”.

O New York Times tem cerca de 10 milhões de assinantes, emprega cerca de 1.700 jornalistas e é o jornal com mais prémios Pulitzer nos EUA, o dobro, por exemplo, do The Washington Post, que tem o segundo maior número de Pulitzers.

Enquanto muitos meios de comunicação procuram sobreviver, o NYT tem lucros de milhões de dólares, o que faz com que muitos investigadores se interessem pelo “fenómeno”.

No entanto, Hamilton diz que apesar deste poder ser um caso de estudo, os investigadores devem “perceber que o New York Times se representa a si mesmo”. O jornalista considera que “é um erro confundir [a sua cobertura] com o que as pessoas recebem diariamente em todos os locais.”

Para os autores do texto, os estudos realizados sobre o NYT têm um valor limitado para quem deseja aprender mais sobre os meios de comunicação dos EUA como um todo, apesar de ser uma das publicações mais influentes do país. No entanto, poderá dar algumas indicações sobre a forma como interpreta o mundo e se envolve com o seu público.

Hamilton e Tworek consideram, ainda assim, que há duas razões principais pelas quais os investigadores recorrem com tanta frequência ao The New York Times: por um lado, a promoção que o jornal faz junto desses investigadores, disponibilizando o seu conteúdo há várias gerações. Por outro, muitas universidades não podem pagar assinaturas de jornais digitalizados, para além das do NYT, dos EUA e do Times, de Londres.

Hamilton e Tworek examinaram artigos de notícias do NYT e de outros 20 veículos de comunicação – 4 grandes veículos, 8 médios e 8 pequenos.  Na sua análise, os autores encontraram várias diferenças entre o NYT e os outros. O uso de termos-chave é um deles. Desde 2015, o NYT usa os termos “notícias falsas” e “propaganda” com maior frequência do que as outras publicações.

“A descoberta mais importante desta pesquisa não foram as comparações entre todos os artigos, mas sim que o NYT é um caso atípico”, explicam Hamilton e Tworek.

Assim, os autores incentivam os investigadores a incluir mais meios de comunicação de notícias nos seus estudos e deixam três recomendações.

Como primeira indicação, Hamilton e Tworek aconselham que os investigadores “tratem o NYT como” um meio de comunicação social que é dirigido a um segmento da população dos EUA, mantendo a ideia de que “nenhum jornal pode representar todo o resto”. Os estudos devem incidir sobre “uma variedade nacional, regional e local; felizmente, os bancos de dados de jornais tornaram possível realizar essa pesquisa, especialmente se os académicos estiverem localizados numa instituição rica, com assinaturas de vários bancos de dados e puderem pagar pelo privilégio da pesquisa de big data”.

Em segundo lugar, os autores recomendam aos investigadores que se familiarizem com a história do jornal. “Esse contexto histórico é importante porque pode ajudar os estudiosos a não cair na armadilha de extrapolar a posição actual do NYT de volta ao passado e basear as suas metodologias nessa suposição equivocada.”

E por último, Hamilton e Tworek aconselham a quem quer estudar os media, a não esquecer que as notícias de rádio e televisão atingem mais pessoas. De facto, “pode ser mais difícil investigar as notícias da TV, principalmente nas primeiras décadas, quando a manutenção de registos era má”, escrevem. “Mas as notícias da TV atingiram muito mais milhões de americanos do que o NYT e, é claro, mais recentemente, os canais de notícias por cabo desenvolveram relações simbióticas de influência com os seus segmentos de audiência e políticos específicos, sendo os mais famosos Donald Trump e Fox News. Da mesma forma, a rádio tem um alcance muito maior do que qualquer jornal.”