Carlos Castilho, num artigo publicado pelo Observatório de Imprensa do Brasil, com o qual o CPI mantém um acordo de parceria, aborda a transformação do debate sobre o jornalismo local, destacando que o mesmo está a tornar-se mais complexo devido à diversidade de desafios enfrentados por quem investe na área.

“Aumentou muito o número de jornalistas que apostam no noticiário local depois da onda de demissões na grande imprensa e do reconhecimento da importância da informação local na sobrevivência da democracia em comunidades sociais. O problema é que aumentou também o número de projectos fracassados por falta de conhecimento mais detalhado sobre a arena local”. 

O autor explica que existem diversos estudos e pesquisas sobre jornalismo local, especialmente nos EUA, Europa, Ásia e América Latina, que indicam que a ausência de dados detalhados sobre as realidades locais dificulta o desenvolvimento de soluções eficazes para contextos tão diversos. “Cada cidade, bairro ou comunidade periférica tem características próprias e a identificação desta especificidade é essencial para o sucesso de cada projecto. Esta é uma lição deixada por centenas de experiências frustradas. Os seus responsáveis deram mais importância política às perspectivas futuras do jornalismo local do que ao relacionamento com membros de comunidades”, acrescenta. 

Para além disso, defende que os dados demográficos, por si só, não são suficientes para entender as motivações das pessoas que não valorizam ou não pagam pelas notícias locais. O compartilhamento e a colaboração "passam a ser quase obrigatórios”. 

Carlos Castilho menciona o relatório de 2024 do Center for Cooperative Media, da Universidade de Montclair, apontando que, em Nova Jersey, a abordagem dos moradores de pequenas e médias cidades para apoiar financeiramente o jornalismo local difere da perspectiva dos jornalistas. “As pessoas, especialmente os assalariados de baixa renda, pensam primeiro no seu orçamento, enquanto os profissionais focam nos custos de produção da notícia. Se os jornalistas não entenderem este comportamento, terão muita dificuldade para levar adiante os seus projectos”. 

Os investigadores de jornalismo local identificaram dois desafios principais: a sobrevivência financeira e a perda de público. A sustentabilidade económica e a migração do público para plataformas digitais, como o Facebook, o TikTok e o Instagram, exigem soluções que envolvem gestão de recursos humanos, financeiros e tecnológicos, aplicando técnicas de empreendedorismo. Para o autor, o compartilhamento de dados “ajuda a descobrir soluções inovadoras cuja aplicação concreta vai depender do desenvolvimento de práticas de gestão normalmente enquadradas dentro do que chamamos de governança”. 

Na era digital, o jornalismo está cada vez menos ligado às grandes empresas e mais relacionado à actividade autónoma, por meio de blogs, newsletters e espaços independentes nas plataformas digitais. No jornalismo local, a procura por notícias agora depende da capacidade individual ou de pequenas equipas em administrar a produção, edição e distribuição de informações, reflectindo uma nova dinâmica no sector.

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