Greve paralisa “Radio France” contra alterações de estrutura
Ao avançar com uma greve por tempo indeterminado quatro dias antes das outras empresas públicas de radiodifusão, os sindicatos da Radio France pretendem fazer ouvir a sua oposição não só à reforma do sector, mas também aos projectos internos promovidos pela presidente, Sibyle Veil.
“Temos de ser capazes de responder em massa ao ataque que estamos a sofrer neste momento”, declarou Lionel Thompson, representante do SNJ-CGT (Sindicato Nacional de Jornalistas), durante a assembleia geral de trabalhadores convocada pelas intersindicais Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), Confederação Geral do Trabalho (CGT), Force Ouvrière (FO), Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ), Solidaires, Unitaires et Democratiques (SUD) e União Nacional dos Sindicatos Autónomos (UNSA), no dia 25 de Junho. A paralisação iniciou-se na madrugada do dia seguinte.
O movimento de protesto mostra-se contra a proposta de criação de uma holding que agregue os diferentes organismos do serviço público de radiodifusão. O texto legislativo prevê a fusão da Radio France, da France Télévisions e do Institute National de L’Audiovisuel (INA) numa nova entidade executiva: a France Médias. “Estamos a defender a singularidade da Radio France e a qualidade dos nossos programas”, afirmou Guillaume Baldy, delegado sindical da FO.
Entre os motivos de contestação interna destacam-se o encerramento da estação juvenil Le Mouv', alterações nos métodos de produção e a controversa reforma da rede ICI (ex-France Bleu), que motivou várias cartas abertas de protesto.
No final de Junho, as equipas do programa “Secrets d’info” foram confrontadas com a decisão de reduzir drasticamente a sua emissão: deixará de ir para o ar todos os sábados, sendo transmitido apenas um domingo por mês. Esta mudança afasta-se do formato tradicional de reportagens de investigação longa, anteriormente marca de programas como o extinto “Interception”.
A possível perda de independência editorial é uma das maiores preocupações dos profissionais. No relatório entregue ao Ministério da Cultura, a antiga directora da France Inter, Laurence Bloch, sugeriu a criação de um director de informação ao nível da holding, sob a responsabilidade directa do director-geral.
Apesar de justificar a medida com argumentos de “eficácia”, esta centralização é vista por muitos como um risco sério à diversidade editorial e ao pluralismo informativo.
Mesmo dentro da France Télévisions, que apoia a reforma, há reservas significativas. O próprio presidente da empresa pública admitiu que “a criação de uma direcção única de informação (...) exige grandes reservas”, segundo trechos de uma nota interna enviada a Laurence Bloch e citada pelo Le Monde.
O documento critica a proposta, considerando-a “uma irritação política inútil que não permitirá uma melhor integração da Franceinfo, da rádio-tv e da web, que é o que desejamos”.
Bloch propõe ainda que a futura holding se organize por filiais, com divisões entre serviços à comunidade (ICI), informação (Franceinfo), rádio (Radio France) e televisão (France Télévisions). Porém, os responsáveis desta última manifestam dúvidas sobre a utilidade de reunir toda a equipa da Franceinfo numa única estrutura. A medida, defendem, “não parece indispensável, pois implicaria custos estruturais inúteis”, além de ser “ineficaz”, dada a dependência do canal informativo do trabalho das redacções locais, nacionais e correspondentes internacionais.
(Créditos da imagem: LUDOVIC MARIN/AFP - retirada do site do Le Monde)