“O julgamento por difamação do século”, como o New York Times lhe chamou, chegou ao fim sem, na realidade, ter começado. E por isso, o canal norte-americano Fox News vai pagar cerca de 718 milhões de euros, à empresa de urnas eletrónicas Dominion, para não ir a tribunal pela sua polémica cobertura das eleições presidenciais em 2020, nos Estados Unidos.

"Estamos satisfeitos por termos chegado a um acordo sobre a nossa batalha com a Dominion Voting Systems", disse o canal, em comunicado, logo após o anúncio de um acordo de última hora entre as partes, pelo juiz que presidiria ao julgamento.

Se o processo judicial fosse para a frente, a Fox News iria ser julgada por mentir deliberadamente, nos seus programas de cobertura eleitoral, acerca da fiabilidade das máquinas da Dominion.

“As mentiras têm consequências”, garantiu o advogado da empresa Dominion, Justin Nelson, quando divulgou publicamente a famosa quantia que a Fox News concordou em pagar, que se traduziu em metade do valor que foi pedido inicialmente pela empresa de urnas eletrónicas.

A Fox News "admitiu ter contado mentiras" que "causaram danos tremendos ao meu negócio, aos nossos funcionários e clientes", disse o presidente da Dominion, John Poulos. “Nada pode reparar isto”, acrescentou.

O canal disse, por sua vez, "tomar nota de uma decisão do tribunal, que considerou falsas certas afirmações sobre a Dominion", quando o juiz declarou, antes do julgamento, que era "claro como água, que nenhuma afirmação sobre a Dominion, nas eleições de 2020, foi verdade”.

Este acordo poupa Rupert Murdoch, de 92 anos e dono da Fox News, de ter que testemunhar em tribunal.

Recorde-se que a empresa Dominion, cujas máquinas operaram em 28 estados durante as eleições presidenciais ganhas por Joe Biden, foi alvo de críticas cerradas por parte de Donald Trump, e acusada de ter sido usada para defraudar as eleições. Muitos eleitores de Donald Trump ainda acreditam que a eleição foi manipulada pela Dominion, e esse protesto chegou ao seu auge, a 6 de janeiro de 2021, quando milhares dos seus apoiantes atacaram o Capitólio, o coração da democracia americana, para bloquear a certificação dos resultados das eleições de 2020.

O julgamento era aguardado com ansiedade nos Estados Unidos, onde era visto como um teste aos limites da liberdade de expressão, garantidos pela primeira emenda à Constituição, bem como ao combate à desinformação.

Regularmente acusada de transmitir teorias da conspiração, a Fox News queria, inicialmente, fazer deste julgamento um caso emblemático para a liberdade de imprensa.

Para o canal, foi legítimo dar a palavra a Trump, quando este contestou os votos e “essencial, em busca da verdade” deixar que todas as partes se manifestassem. Mas a Dominion argumentou que a Fox News estava a mentir deliberadamente, para não perder os telespectadores que eram apoiantes de Donald Trump.