“A decisão de vetar o Russia Today e o Sputnik de divulgar conteúdo em qualquer tipo de meio não tem precedentes na Europa”.  Oliva justifica a afirmação com o facto de a decisão na sua opinião não ter sido justificada com base em violações especificas, mas antes em condutas genéricas e cita o texto de 1 de Março que serviu de base à proibição: 

O governo russo “lançou uma campanha internacional sistemática de manipulação de informação e distorção dos factos com os quais pretende intensificar a sua estratégia de desestabilização nos países vizinhos, bem como a União Europeia e os seus países membros. Faz isso "atacando repetida e constantemente" os partidos políticos - especialmente durante os períodos eleitorais -, a sociedade civil, os requerentes de asilo, várias minorias e o funcionamento das instituições democráticas”.

Embora considerando verdadeira a justificação, Oliva afirma que o Russia Today e o Sputnik “não são os únicos meios de comunicação que desinformam e intoxicam” e questiona para além disso, “quem tem o poder de definir o que é um ataque às instituições democráticas europeias? E o que significa, neste caso, atacar?”

Lembra ainda que diferentes juristas argumentaram que um órgão executivo como a Comissão Europeia não pode fechar um meio de comunicação. “Uma decisão tão grave que afecte tão directamente a liberdade de expressão e o direito à informação deve ser justificada com base em infracções específicas e não em condutas genéricas, sob a protecção de normas claramente aplicáveis, e sempre por ordem judicial com possibilidade de defesa”. Num Estado de Direito, “não pode haver excepções, o princípio da legalidade deve sempre operar. As directivas que são invocadas não permitem, segundo estes juristas, tomar a decisão da forma como foi feita” afirma.

Reconhecendo não ser fácil a defesa contra um agressor com as características da Federação Russa, ainda assim Oliva, defende que as democracias “não podem usar os mesmos procedimentos usados pelos regimes autocráticos para combater as ameaças”,

Os efeitos que uma proibição deste tipo tem sobre a ordem democrática devem ser “avaliados” defende.

“A desinformação deve ser combatida com rigor jornalístico e com informação de qualidade que desmascare as manipulações. A proibição ou qualquer forma de censura que não esteja claramente protegida por uma justificativa legal previamente criminalizada não só não é a resposta democrática adequada, como também reforça aqueles que não acreditam nas liberdades democráticas” afirma Milagros Pérez Oliva.