O autor recorda a origem do termo podcast, que já tem quase 15 anos  -  um neologismo divulgado pelo jornalista britânico Ben Hammersley a partir de broadcast (emissão ou retransmissão) e de uma referência à marca iPod de aparelhos de reprodução áudio, muito populares à época. 

Como explica outro jornalista aqui citado, Zorka Zumeta, o podcast “participa de todas as vantagens da rádio  - entre as quais a simultaneidade de acções (pode ser escutado enquanto se faz outra coisa) -  mas acima de tudo destaca que é o utente quem impõe as suas próprias coordenadas: escolhe o que escuta, quando e onde, uma liberdade de escolha que não existia com a rádio”. (...) 

José Luis Rojas, docente de jornalismo na Universidade de Sevilha, acrescenta que o podcast se tornou, nos últimos anos, “uma via para que jovens jornalistas ou recém-licenciados possam encontrar um espaço no mercado do trabalho, construindo, para lá do blog e das redes sociais, a sua própria marca pessoal”. 

No fundo, o podcast é “o contador de histórias portátil do séc. XXI”, como diz Zorka Zumeta. E citando agora Ángel Jiménez de Luis, co-fundador da Cuonda Podcast, uma plataforma espanhola de podcasts independentes: 

“O podcast passou por várias fases ao longo dos últimos quinze anos, mas desta vez tem elementos únicos. Por um lado, toda a gente traz agora no bolso um aparelho sempre ligado, e pelo qual se habituou a ouvir rádio. Isto faz com que seja muito mais fácil chegar a uma audiência importante, que não existia antes, ou que dependia de um reprodutor de MP3, que era preciso ligar a um computador. Por outro, encontrou-se uma linguagem própria e temáticas variadas, que têm mais eco junto da audiência.” (...) 

É por aqui que se chega à questão da publicidade  - cuja apropriação pelas grandes plataformas fez ao jornalismo impresso aquilo que sabemos. 

Segundo os dados do mais recente relatório Sociedad de la Información, da Telefónica, 86% dos jovens espanhóis têm um smartphone que usam como dispositivo de referência para mensagens instantâneas, redes sociais e consumo de música e vídeos em streaming: “Um cenário que se revela ideal para o auge dos conteúdos multimédia para novos nichos de mercado.” (...) 

“Apesar da previsível eficácia publicitária como modelo de negócio para este novo formato narrativo, o grande problema tem sido que não havia modo claro de conhecer o consumo real dos podcasts  - o que dificultava a sua exploração comercial. Mas dispõem de um factor fundamental que teria de ser a grande mais-valia publicitária: o tempo de retenção, porque, finalmente, quem escuta é alguém que decidiu passar quinze ou vinte minutos com determinada marca ou história.” (...) 

Em Março de 2017, os questionários para a primeira vaga do Estudio General de Medios, um dos principais instrumentos de medição de audiências em Espanha, já incluíam como novidade principal a inclusão dos podcasts como forma de escuta. Já há grupos de comunicação produzindo conteúdos de ficção “pensados especificamente para esta forma de distribuição”, com o cuidado de boa qualidade na realização do guião e na edição de áudio. (...) 

Também o Digital News Project 2018, do Instituto Reuters, sobre Tendências e Previsões para o Jornalismo e os Media, já reconhecia a importância desta aposta dos media pelo áudio, referindo-se ao uso crescente dos assistentes de voz.

“Embora ouvir música continue a ser a utilização mais habitual para 68% dos inquiridos, 45% já recorrem a eles para consultar o noticiário, e 58% para ver informação de última hora, como a previsão do tempo.” (...) 

“Quebrando com a tendência do vídeo como conteúdo dominante no meio digital, o Instituto Reuters acrescenta que o áudio a pedido começa a aproximar-se dos níveis do vídeo. Concretamente, os podcasts são uma tendência e, portanto, um campo em que vale a pena investir, segundo 58% dos CEO’s dos media  - com uma diferença de apenas três pontos percentuais em relação ao vídeo em directo.” (...) 

“O futuro das notícias são os humanos falando com máquinas”  - é o argumento de Trushar Barot, da BBC, que entende que “a inteligência artificial de voz será a maior revolução tecnológica da indústria [do jornalismo] nos próximos tempos.” (...) 

Isso é bom ou é mau? 

Como explicava há cerca de ano e meio Amy Webb, do Future Today Institute, “a voz é a próxima grande ameaça para os media. (...)  Vai oferecer uma conexão fluída com o jornalismo. Pode elevar o papel que desempenham as empresas de notícias, no nosso dia a dia, de informativo a indispensável.” Mas vai exigir estratégia e narrativas adaptadas: 

“Os responsáveis dos media não estão a [avaliar] como vão mudar os hábitos de consumo da informação quando todos estivermos a falar com as máquinas presentes nas nossas vidas.” (...) 

O desenvolvimento do longo artigo aqui citado  - e cuja leitura na íntegra não é substituída por esta síntese -  descreve os mais recentes exemplos de podcasts na língua castelhana, com a preocupação de serem acessíveis aos mercados da América Latina. 

Vale a pena citar Andrés Rodríguez, da Spain Media Radio:  

“Já sabemos quantas pessoas nos escutam diariamente. Sabemos que, se fizermos uns ou outros títulos, essa audiência toca mais ou menos no play. Mas, com esta precisão métrica, corremos o risco de não incluir aquelas ideias ou tendências que, sendo minoritárias, são aquelas que finalmente contribuirão para mudar a nossa sociedade. É no equilíbrio entre audiência e influência que está o caminho desta nova rádio.” (...) 

O texto dá também informação sobre o que se passa pelo lado dos grandes media internacionais, já entrados por este caminho:

The New York Times, com uma produção de nove podcasts  - nomeadamente The Daily, com cinco milhões de ouvintes mensais [regulares]  - um milhão diariamente -, que já se pode escutar em 34 emissoras locais de rádio pública nos Estados Unidos. “A maior parte dos seus ouvintes são de uma audiência muito mais jovem do que a habitual daquele diário.” 

The Washington Post, com uma grande selecção de podcasts, com temáticas tão diversas como a História da Constituição, a guerra do Vietname ou os poderes e limites da Presidência do país, intitulada  - Can He Do That? (Ele pode fazer isso?). 

O britânico The Guardian, que anunciou em Novembro o lançamento de Guardian Voice Lab, uma equipa que experimenta a narração de contos e a produção de jornalismo utilizando os assistentes de voz inteligentes e áudio inovador interactivo. 

O Financial Times, que também está a apostar no áudio como meio efectivo de atrair uma audiência jovem. Do mesmo modo a BBC, com o seu primeiro editor para podcast

Como conclui José Antonio González Alba, “agora mais profissionalizado e com uma oferta ampla de temas e plataformas distribuidoras, o desafio dos media com os podcasts será o que é procurado, de modo geral, por parte da indústria: que contribuam para consolidar a diversificação do modelo de negócio de [cada] meio.”

 

 

O artigo aqui citado, na íntegra nos Cuadernos de Periodistas