Capital de empresas editoriais na Bolsa prejudica jornalismo
Perante a crise dos “media”, várias empresas começaram a alterar a sua organização e modelo de negócio, tornando o seu capital aberto. Contudo, conforme apontou Luke Winkie num artigo do “Nieman Lab”,isto pode prejudicar a qualidade do jornalismo.
Tal como recordou Winkie, o “Buzzfeed” foi uma das primeiras grandes empresas de “info-entretenimento” a permitir a compra de acções através da Bolsa. Isto aconteceu no final de 2021, quando o fundador desta organização, Jonah Peretti, revelou a intenção de aumentar o seu lucro.
Ou seja, segundo Peretti, a medida teve como objectivo financiar o serviço noticioso do “Buzzfeed” que, embora já tenha sido distinguido com um Prémio Pulitzer, traz menos receitas do que as secções de entretenimento.
Contudo, os accionistas parecem não estar interessados em apoiar a qualidade do jornalismo, mas em fazer negócios lucrativos, pelo que é provável que administração pressione Peretti a fazer cortes sucessivos no financiamento noticioso.
“Os investidores quase nunca se interessam em apoiar causas sociais”, considerou Winkie. “Na maioria dos casos, o objectivo é crescer, e extrair dinheiro”.
Assim, apesar de as acções em Bolsa serem uma solução viável para os problemas financeiros de muitas empresas, representa, também, um risco para a independência e qualidade do jornalismo praticado.
Contudo, de acordo com o jornalista financeiro Mark Stenberg, este parece ser o único caminho para várias empresas de conteúdos digitais lançadas no início da década de 2010, que deixaram de conseguir assegurar a sua sustentabilidade, após terem prometido um “futuro brilhante” aos seus principais investidores.
Abril 22
“De certa forma, os donos das empresas conseguiram capital ao prometerem que os investidores teriam, um dia, o seu dinheiro de volta”, assinalou Stenberg, acrescentando que, em muitos dos casos, a única forma de cumprir a promessa é tornar o capital aberto.
Por outro lado, Tom Ley, editor-executivo da publicação “Defector” considera essencial analisar as motivações por detrás desta alteração do modelo de negócio.
“Se a ideia for conseguir dinheiro para contratar mais jornalistas e produzir melhores conteúdos, acho que as empresas devem avançar com esta medida. No entanto, se a motivação for conseguir dinheiro para os investidores, vai começar a haver incompatibilidades entre a empresa noticiosa e os seus colaboradores”, afirmou Ley.
Isto pode, ainda, levar as empresas de “info-entretenimento” a encerrarem as suas editorias informativas, uma vez que não são lucrativas, e que os jornalistas parecem não estar dispostos a esquecer os seus valores éticos e deontológicos, para benefício dos investidores.
Por isso mesmo, até ao momento, o capital público parece estar a servir, apenas, os empresários e accionistas, sem qualquer vantagem para os jornalistas, ou para o trabalho que estes desempenham.
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