O autor começa por lembrar que, “em Abril de 2016, o filme ‘Os Dez Mandamentos’, produzido pela Record TV de Edir Macedo, desbancou ‘Tropa de Elite 2’ e se tornou o maior [êxito] de bilheteira da história do cinema brasileiro, com quase 11,5 milhões de bilhetes vendidos. Um recorde que, segundo a Imprensa, foi atingido com ‘salas vazias’ e parte dos ingressos comprados em dinheiro e distribuídos gratuitamente”. 

“Com este [enorme] sucesso no portfólio, não foi difícil convencer uma porção de exibidores a deixar reservadas muitas salas de cinema para a estreia de ‘Nada a Perder’, que já chegou aos cinemas, em Março deste ano, batendo o recorde da produção anterior, agora com 4 milhões de ingressos vendidos antes do filme estrear.” 

“A Imprensa, no entanto, não tardou para defender as true news. O portal IG afirmou que a Igreja Universal estava doando ingressos em supermercados. Tony Góes, da Folha de S.Paulo, afirmou que a Igreja fechou salas de cinema alegando lotação máxima quando, na verdade, ninguém estava vendo o filme. Jornais, revistas e sites foram às salas de cinema para constatar que pouquíssimos das centenas de lugares disponíveis estavam ocupados.” (...) 

Franthiesco Ballerini conta que Edir Macedo não desistiu e, “primeiro, comprou espaço comercial na própria TV Globo para anunciar o seu filme. Dono da concorrente Record TV e de portais como o R7, não demorou para o seu jornalismo entrar em acção. No R7, um artigo intitulado ‘Nada a Perder: um filme que incomoda muita gente’ afirma que reportagens estariam usando ‘dados manipulados’ para espalhar o preconceito contra o filme”. (...) 

A partir daqui começamos a ver um outro “filme”, que corre em várias nações do planeta e se tornou um dos mais preocupantes temas de reflexão sobre o futuro do jornalismo: uma espécie de duelo de gigantes no meio da cidade, em que o mais rápido a sacar a sua arma abate o adversário. As balas chamam-se agora fake news

O autor do artigo cita a troca de argumentos entre os meios que detém o próprio biografado e o “jornalismo cultural” que se lhe opõe. Indo à matéria do filme, “críticos analisaram a obra sob o ponto de vista estético, narrativo e técnico. O crítico Roberto Sadovski, por exemplo, chama o filme de ‘peça de propaganda’ constrangedora. Afirma que é um filme que ‘prega aos convertidos’ pois não entrega informação extra alguma para quem já conhece a figura do bispo”. (...) “Nada a Perder” é o que acontece quando se tem muito dinheiro na mão e nenhuma ideia, a não ser usar a sala de cinema como extensão do templo.”

“Na batalha do fake contra o true, a Imprensa fez seu papel de registar o seu lado, que será usado no futuro por livros, documentários e estudos sobre o cinema brasileiro. Mas outros episódios desta saga ainda virão. ‘Nada a Perder’ é a primeira parte de uma trilogia, com duas peças previstas para estrear em 2019 e 2020. Se este filme, que teve cenas gravadas em Jerusalém, Nova York e Joanesburgo, já ‘quebrou recordes’, imagine então qual será o próximo milagre do bispo.”

 

O artigo citado, na íntegra, no Observatório da Imprensa