Balanço do ano brasileiro entre radicalismos e boas notícias

Na rubrica designada por “retrocessos”, a primeira lista descreve “tentativas de censurar manifestações artísticas, posicionamentos racistas, perda de direitos trabalhistas, ‘cura gay’, flexibilização da fiscalização de práticas análogas à escravidão, desmonte de políticas sociais e ensino religioso confessional nas escolas, entre outros anacronismos”.
“A sensação que temos é que as várias formas de preconceito e todos os tipos de obscurantismo resolveram sair do armário ao mesmo tempo. Dito de outro modo, a ‘caixa de Pandora’ do extremismo foi aberta.” (...)
O autor recorda depois as revoltas em presídios brasileiros e o facto de Michel Temer ter conseguido manter-se na Presidência da República: “Para tanto, lançou mão de um expediente bastante comum: a compra de parlamentares.”
Lamenta a seguir, com vários exemplos, que os espaços escolares tenham funcionado como “mecanismos de reprodução para estereótipos e preconceitos sociais”. Denuncia situações semelhantes nas redes sociais, que foram “espaços privilegiados para exibição da imbecilidade humana”. A propósito do tratamento de alguns famosos na Internet, fala também da “cultura do grotesco amplamente disseminada na rede mundial de computadores”. (...)
“Por outro lado, o ano passado também teve boas notícias, como as mobilizações femininas contra o assédio sexual, o lançamento do 38º álbum estúdio de Chico Buarque, o levante popular contra a reforma da previdência na Argentina e a publicação do excelente livro “A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato”, do cientista social Jessé Souza, obra que já pode ser considerada como seminal para se entender a sociedade brasileira.” (...)
Cita, deste autor, que “o passado que nos domina não é a continuidade com o Portugal pré-moderno que nos legaria a corrupção só do Estado, como o culturalismo dominante até hoje entre nós nos diz”:
“Nosso passado intocado até hoje, precisamente por seu esquecimento, é o do escravismo. Do escravismo nós herdamos o desprezo e o ódio covarde pelas classes populares, que tornaram impossível uma sociedade minimamente igualitária”. (...)
E a concluir, voltando às notícias más, descreve a operação da Polícia Federal na Universidade Federal de Minas Gerais, “sob a acusação genérica de desvio de recursos públicos destinados à construção e implantação do Memorial da Amnistia Política do Brasil. Oito pessoas, entre elas reitor e vice-reitora, foram conduzidas coercitivamente para prestar depoimento. Todavia, a PF não esclareceu quem seriam os possíveis beneficiados desses montantes desviados.”
“Em entrevista ao portal Brasil 247, a vice-reitora, Sandra Regina Goulart, disse que, durante o interrogatório, o delegado da PF não apresentou qualquer prova, nem mesmo informou nada sobre a investigação, ‘uma situação assustadora’, declarou. Trata-se, portanto, de uma ofensiva contra a Universidade pública, um dos poucos espaços que ainda restam para o exercício do livre pensamento.” (...)
O texto de Francisco Fernandes Ladeira, na íntegra, no Observatório da Imprensa