A 6 de Agosto de 1945, a cidade de Hiroshima foi palco do primeiro ataque nuclear da história da humanidade. A explosão destruiu quase por completo a sede do jornal Chugoku Shimbun, situada a apenas 900 metros do epicentro. Mais de 100 mil pessoas morreram até ao final do ano, entre as quais 113 funcionários do jornal. 

Os jornalistas que sobreviveram assumiram o compromisso de documentar os efeitos do ataque, começando a relatar os acontecimentos logo no dia seguinte. Com a ajuda de outras empresas jornalísticas, o jornal conseguiu retomar a sua publicação apenas três dias depois da explosão, a 9 de Agosto de 1945. 

“Desde então, temos pensado obsessivamente sobre a paz”, afirmou, ao Reuters Institute, a directora do Centro de Comunicação Social da Paz de Hiroshima, Yumi Kanazaki. Este centro foi criado em 2008 como parte integrante do jornal e reúne mais de 23 mil artigos sobre o impacto da bomba atómica, o armamento nuclear actual, a energia nuclear e os crimes de guerra cometidos pelo Japão. 

O jornal, com uma tiragem de cerca de 480 mil exemplares, aposta num modelo sustentado por subscrições e publicidade, mantendo uma forte presença local e um site consultado por milhões de leitores de mais de 200 países e territórios. 

Nos últimos anos, com o envelhecimento dos sobreviventes (hibakusha), o jornal intensificou o esforço de preservar as suas memórias. Em 2024, lançou a série Documenting Hiroshima, com reportagens diárias baseadas em testemunhos directos e registos da época. Segundo Michiko Tanaka, redactora sénior, “a maioria dos sobreviventes está na casa dos 80 anos. Em breve, chegará o momento em que nenhum deles estará mais vivo”. 

Num esforço conjunto com os jornais Nagasaki Shimbun e Asahi Shimbun, o Chugoku Shimbun distribuiu um questionário a 11 mil hibakusha, tendo obtido mais de 3500 respostas. Cerca de 80% dos hibakushas que responderam ao questionário afirmaram que o Japão deveria aderir ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares, um acordo internacional juridicamente vinculativo que visa a eliminação total das armas nucleares. 

“Choro com os sobreviventes sempre que os entrevisto”, confessou Tanaka. No entanto, acrescenta que o apoio mútuo entre os colegas da redacção tem sido essencial para aguentar oito décadas de uma “história apocalíptica”. 

O Chugoku Shimbun serve, hoje, como testemunho das consequências da guerra nuclear e como alerta sobre os riscos que persistem num mundo cada vez mais instável.

(Créditos da imagem: Unsplash)