Jornalismo precisa de rever critérios para melhorar a relevância e confiança nas notícias publicadas

Numa era de “avalanche” de notícias, Carlos Castilho defende que “aumenta a necessidade e urgência de o jornalismo rever os critérios para determinar a relevância e a confiabilidade das notícias publicadas na imprensa e sites informativos online”. Num novo artigo publicado no Observatório de Imprensa do Brasil, entidade parceira do Clube Português de Imprensa, o jornalista observa que, perante o “crescimento avassalador das técnicas de impacto como forma de produzir e hierarquizar manchetes em publicações noticiosas online”, as regras e os valores das redacções estão “obsoletas”.
Para o autor, a intensidade, diversidade e rapidez das notícias reduziram drasticamente o tempo disponível para os leitores, ouvintes, telespectadores ou internautas avaliarem a fiabilidade, relevância e precisão das notícias. Esta questão acabou por causar impacto nas rotinas e regras, não só nas redacções, mas também no desempenho de profissionais independentes.
Agora, as manchetes “foram transformadas no componente-chave das notícias publicadas online, através da sobreposição e repetição de dados e factos nem sempre importantes e confiáveis”, em detrimento dos próprios textos.
“O jornalismo e a imprensa perderam o monopólio da produção e disseminação de notícias em plataformas digitais (Medium, BlueSky, BuzzFeed, Linkedin, Facebook, TikTok e WhatsApp, por exemplo) para assumirem, cada vez mais, a função de curadores, verificadores e intérpretes de informações já publicadas”.
Desta forma, a imprensa acabou por encontrar na interpretação de notícias “o nicho para sobreviver num mercado onde a sua sobrevivência é cada vez mais difícil”. Carlos Castilho considera que esta é uma função “essencial, por causa do efeito desorientador gerado pelo excesso de dados, factos e eventos em circulação na internet”, um fenómeno agravado pela proliferação de notícias falsas e pela desinformação. “É aí que está o grande desafio da actualização dos procedimentos funcionais de repórteres, editores e analistas tanto em redacções como no trabalho individual”, refere.
“Para poder cumprir com a missão de orientar o público, o jornalismo precisa agora de focar no fluxo de notícias e não em cada informação. Preocupar-se mais com as estratégias embutidas no fluxo do que com a formatação e o conteúdo”. Ainda assim, Castilho não quer com isto dizer que a confiabilidade de uma notícia deva ser deixada de lado: “muito pelo contrário, parafraseando o dito «é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade”», é possível compreender como uma manchete baseada na descontextualização de um ou mais dados contidos numa informação, todos verdadeiros, pode induzir as pessoas em erro”.
Carlos Castilho termina o seu artigo mencionando uma das principais barreiras impostas ao jornalismo: “A desconstrução de manchetes implica um considerável conhecimento de repórteres, editores e comentadores sobre comunicação e política, coisa que a maioria das redacções não tem, porque foram reduzidas ao máximo para economizar custos”.
O artigo de Carlos Castilho pode ser lido na íntegra aqui.
(Créditos da imagem: Freepik)