A correspondente da equipa de Washington do Government Executive (uma publicação que faz a cobertura sobre negócios diários do governo americano) descreve-se como uma pessoa introvertida, o que parece ir contra a imagem que muitos têm do jornalista, que tem de ser duro e fazer perguntas. “Existe sempre essa ideia, especialmente no jornalismo, de que deves ser a pessoa mais barulhenta da sala” diz Courtney Bublé.

Um artigo publicado no Poynter. sobre este trabalho, refere que pode ser desgastante para os introvertidos participar em muitos eventos sociais, seja ao nível pessoal ou no trabalho. Ser o centro das atenções na altura de fazer perguntas, em conferências de imprensa, pode exigir maior reflexão ou esforço para estas pessoas do que para os extrovertidos. Mas acontece que os introvertidos podem ser muito eficazes e, às vezes, até mais adequados para o trabalho.

A jornalista cita Irving Washington, que diz que “uma das coisas que os introvertidos fazem muito bem é conectar-se com as pessoas” e “procurar significado”, o que contribui para o nascimento de “histórias mais poderosas”.

Quando Bublé decidiu trabalhar como bolseira no projecto Poynter-Koch Media and Journalism Fellowship, o seu objectivo foi o de investigar a forma como os jornalistas introvertidos conseguem evoluir nas suas carreiras. Como consequência, Bublé começou a trabalhar num guia com ideias e dicas para jornalistas introvertidos. O resultado, publicado recentemente, é uma apresentação na web com o nome “Saying the Quiet Part Loud: Introverts Can Be Journalists” em https://introvertedjournalists.com/ .

Bublé começou o projecto com algumas pesquisas sobre as quais já estava familiarizada: o livro de Susan Cain de 2012 “Quiet: The Power of Introverts in a World That Can’t Stop Talking”, “o Santo Graal” dos trabalhos sobre introversão.

Para além disso, Bublé também entrevistou especialistas no tema, como o professor e investigador Karl Moore, da Universidade McGill, e o ex-vice-director da Online News Association, Irving Washington, que se autodescreve como introvertido e que já fez apresentações sobre o assunto.

O projecto teve a contribuição de jornalistas introvertidos, auto-identificados através de um formulário do Google (Google Forms), que deu a Bublé informações adicionais. “Conversar com os especialistas e obter os resultados da pesquisa trouxe à tona coisas” positivas e afirmações como “sim, sou um ouvinte muito bom e isso torna (o jornalismo) mais fácil”, referiu.

Um dos entrevistados apontou que os introvertidos às vezes evitam eventos sociais para se concentrarem no trabalho e examinar documentos, ou fazerem mais trabalhos de secretária. “Isso é algo que faço às vezes”, diz Bublé, mas “nunca pensei que houvesse uma ligação com o facto de ser introvertida”.

O guia oferece algumas estratégias para os jornalistas lidarem com a timidez, desde o acto de segurar num caderno, até à importância de se focar numa história, quando é necessário fazer perguntas numa conferência de imprensa.

No entanto, o manual também apresenta uma secção para extrovertidos, que podem ler sobre como ajudar os introvertidos a ter sucesso no seu trabalho.

Uma pessoa extrovertida que leu o guia, diz Bublé, foi a sua mãe, que percebeu “como ser uma melhor ouvinte e deixar as outras pessoas falar.”

Bublé, introvertida assumida, diz que o processo de trabalhar no guia foi terapêutico e espera agora que outros introvertidos na indústria dos media adoptem a informação que disponibilizou. “É muito bom poder ajudar as pessoas e fazer com que elas saibam que estão menos sozinhas.”

Esta história faz parte de uma série de projectos de inovação do Poynter-Koch Media and Journalism Fellowship 2022-2023. Os projectos foram apresentados num Summit, recentemente, em Washington D.C., EUA.