As eleições recentes na Roménia e na Polónia oferecem uma nova perspectiva sobre o populismo e o papel dos meios de comunicação social. Pelo menos assim considera Jon Allsop, jornalista, num texto para o Columbia Journalism Review. 

Na Roménia, o foco internacional inicial recaiu sobre George Simion, candidato de extrema-direita, descrito como uma “ameaça à continuação da assistência militar romena à vizinha Ucrânia” e alguém que apoia Donald Trump. Contudo, nem sequer passou à segunda volta das eleições. Os candidatos que se qualificaram foram Elena Lasconi e o até então desconhecido Călin Georgescu, que ganhou notoriedade graças a uma “campanha viral no TikTok”. Um jornalista romeno destacou que esta foi “a primeira eleição em que as redes sociais foram mais influentes do que a televisão”. 

O governo romeno alegou que Georgescu tinha beneficiado de uma campanha de influência online e as eleições acabaram por ser anuladas. Georgescu foi desqualificado e Simion voltou à corrida, agora com o apoio do primeiro, e conquistou 40% na primeira volta. Após a segunda volta, Simion declarou falsamente que era o novo presidente da Roménia. “A afirmação de Simion, no entanto, não era verdadeira - nesta altura, uma sondagem à boca da urna sugeria que Dan (candidato moderado e presidente da Câmara de Bucareste) estava a caminho de uma vitória inesperada”. 

Embora tenha alegado fraude, garantindo que havia muitas pessoas falecidas nas listas eleitorais romenas, acabou por admitir a derrota: “Não podemos acusar uma adulteração significativa dos boletins de voto”, disse numa mensagem de vídeo. 

Ainda assim, a sua influência internacional cresceu. Por exemplo, visitou Washington, onde se reuniu com Steve Bannon e Jack Posobiec. Recentemente, Simion agrediu jornalistas de um canal de televisão romeno no seu próprio gabinete e insultou um repórter em Bruxelas, acusando-o de apoiar Dan e chamando-lhe “autista”, tendo depois dito que queria antes dizer “nazi” ou “marxista”. 

Num esforço de internacionalização, George Simion esteve em Bruxelas, França e Polónia antes da segunda volta das eleições, aparecendo em meios e eventos ligados à direita. Na Polónia, participou num comício com Karol Nawrocki, candidato apoiado pelo partido de extrema-direita Lei e Justiça, que liderou o governo até 2023. Nawrocki, que recentemente se encontrou com Trump nos EUA e que promove uma imagem de "durão", ficou em segundo lugar na primeira volta das presidenciais, atrás de Rafał Trzaskowski, do partido centrista Plataforma Cívica. A segunda volta decorre a 1 de Junho. 

O resultado das eleições presidenciais na Polónia "será muito significativo”, já que, embora o partido Lei e Justiça já não lidere o governo, o presidente Duda utilizou o poder de veto para bloquear a agenda reformista da Plataforma Cívica. Um dos conflitos mais emblemáticos foi o controlo da emissora estatal, transformada pelo Lei e Justiça numa arma para atacar opositores e meios de comunicação social críticos. 

Após assumir o poder em 2023, o novo governo tentou recuperar a emissora, mas enfrentou forte resistência e a sede da emissora chegou até a ser ocupada. Duda ameaçou com um veto e, em resposta, o novo governo “decidiu colocar os meios de comunicação social estatais em liquidação, uma manobra técnica que, segundo os funcionários, lhes concedeu autoridade sobre o pessoal e outros assuntos”. Esta medida gerou controvérsia, inclusivamente quem já havia criticado o autoritarismo do Lei e Justiça. 

“Desde então, os meios de comunicação social continuam a ser uma área de contestação entre o novo governo e a direita populista”, salienta Jon Allsop. Embora, durante o governo do Lei e Justiça, a emissora estatal tenha beneficiado Duda com uma cobertura “esmagadoramente positiva”, após a vitória da Plataforma Cívica surgiram acusações de viés oposto. O governo incluiu as duas maiores redes privadas de televisão numa lista de empresas estratégicas que não podem ser vendidas sem aprovação oficial, após rumores de uma possível compra da TVN — canal detido pelos EUA — por aliados de Viktor Orbán.  

A campanha eleitoral foi marcada por tensão mediática: "Antes das eleições, o desacordo entre Nawrocki, Trzaskowski e outros candidatos sobre quais os canais que poderiam acolher um debate e quem poderia participar levou a uma confusão em que dois debates rivais quase se contraprogramaram e uma eventual oferta organizada pelos dois principais canais privados e pela emissora estatal durou várias horas”. 

Segundo o Notes from Poland, Trzaskowski continua como favorito para vencer a segunda volta, embora o apoio inesperadamente forte à direita na primeira volta mostre que Nawrocki tem hipóteses reais. 

“E a derrota eleitoral, claro, nunca significa o fim da luta populista de direita ou das suas tácticas mediáticas”, alerta o jornalista. Mesmo após a derrota, George Simion continua activo nas redes sociais, passando mensagens como “ROMENOS LIVRES” e partilhando vídeos com slogans a insultar os defensores da globalização. Após a anulação das eleições, a francesa Marion Maréchal, política de extrema-direita francesa e parente de Marine Le Pen, escreveu que Simon aumentou significativamente a sua pontuação e que “este resultado anuncia as vitórias de amanhã”.

(Créditos da imagem: Freepik)