Cerca de meia centena de jornalistas decidiram abandonar recentemente o Pentágono, após falharem as negociações com a equipa de comunicação do Ministério da Defesa norte-americano relativamente a novas regras para a cobertura de assuntos ligados à Defesa. 

Os principais media nos Estados Unidos criticaram de forma unânime o ministério, liderado por Pete Hegseth, depois de surgirem novas directrizes para o acompanhamento noticioso do Pentágono. Em protesto, dezenas de repórteres entregaram os seus passes de acesso ao edifício e decidiram abandonar os seus postos. 

Como avança o Expresso, a revisão das directrizes, descrita pelo Pentágono como “senso comum”, inclui limites sobre os locais onde os jornalistas podem circular sem acompanhamento do ministério e envia, segundo a Associação de Jornalistas do Pentágono, “uma mensagem de intimidação sem precedentes” a todos os que queiram falar com um repórter sem autorização prévia de Hegseth ou da sua equipa. 

Estava também prevista a retirada dos passes a jornalistas que publicassem informações não previamente disponibilizadas pelo ministério, anulando, na prática, a investigação jornalística, que, por definição, inclui a publicação de material não acessível ao público e examina o funcionamento de instituições que influenciam a vida dos cidadãos. 

Ministério responde à letra 

O ministério considerou a reacção exagerada, afirmando que os repórteres continuam livres para fazer perguntas e que a assinatura das novas regras serve apenas como confirmação de leitura, não de cumprimento obrigatório. 

Segundo Sean Parnell, porta-voz-chefe do Departamento de Defesa, “os jornalistas não são obrigados a consultar os responsáveis do ministério antes de publicarem as histórias. Mantêm amplo acesso aos escritórios de relações públicas, à sala de imprensa e à possibilidade de fazer perguntas, que continuarão a ser respondidas de forma criteriosa”. 

A única alteração, esclareceu Parnell, é uma actualização do processo de acreditação, que não era revista há anos, para alinhar com os padrões de segurança modernos. 

Jornalistas e académicos que estudam a lei da liberdade de imprensa discordam da versão do Pentágono. David Schulz, director do Departamento de Liberdade de Imprensa e Acesso à Informação da Faculdade de Direito de Yale, declarou à PBS que, “àquilo que o Pentágono chama solicitação ilegal de informação, nós chamamos recolha de notícias.” 

Schulz sublinhou ainda que o novo documento exige que os repórteres afirmem por escrito que compreendem que a divulgação de certas informações prejudica a segurança nacional, mesmo que essas informações não sejam confidenciais. Segundo ele, o interesse público muitas vezes exige a divulgação, e a medida poderia ser usada em tribunal, limitando a protecção conferida pela Primeira Emenda. 

Donald Trump manifestou apoio ao ministro da Defesa, mantendo uma relação conflituosa com a imprensa, considerando-a “perturbadora” e “desonesta”. O presidente já moveu processos contra meios de comunicação, limitou o acesso de certos repórteres e recusou respostas a perguntas de determinadas estações, como aconteceu recentemente com a ABC, em relação a alegações de suborno envolvendo o vice-presidente JD Vance.

(Créditos da imagem: Instituto Catedra)