Mais de 75 mil assinantes digitais do The Washington Post cancelaram as suas subscrições desde que o seu proprietário, Jeff Bezos, anunciou que iria reformular as páginas de opinião do jornal para reflectir “as prioridades libertárias e excluir pontos de vista opostos”, avança a rádio pública NPR. 

Os cancelamentos representam um “nível histórico de fúria dos leitores face às alterações”. Esta é uma tendência que começou em Outubro do ano passado, quando Jeff Bezos cancelou um apoio à então candidata democrata à presidência, Kamala Harris. Entre esse momento e o dia das eleições, mais de 300 mil assinantes cancelaram a assinatura do Post, o que representa mais de 12% dos assinantes digitais, que constituem a grande maioria da circulação paga do jornal.  

A NPR expõe que existe “um amplo consenso” dentro do jornal de que, sem as decisões de Bezos, “o jornal teria centenas de milhares de assinantes pagantes a mais do que tinha antes das eleições”. Em vez disso, os números que a NPR conseguiu obter indicam uma perda líquida de algumas centenas de milhares de assinantes. 

O anúncio de Bezos levou à demissão imediata de David Shipley, editor de opinião, que tinha tentado persuadir Bezos a abandonar os planos. A decisão de Bezos também provocou protestos de figuras de longa data do Post, incluindo o editor David Maraniss e o antigo editor executivo Marty Baron, que chamou a medida de “covarde” e disse ao Zeteo News que Bezos estava “basicamente com medo” do Presidente Trump. 

Durante o primeiro mandato de Donald Trump, o Washington Post adotou o lema “A democracia morre na escuridão”. Em 2020, a página editorial, que funciona separadamente da secção de notícias, alertou que um segundo mandato de Trump poderia prejudicar a democracia. Agora, Bezos promete uma “reorientação da secção de opinião em apoio das liberdades pessoais e dos mercados livres", acrescentando que “os pontos de vista que se opõem a estes pilares serão deixados para serem publicados por outros”. Para o proprietário do Post, na era digital um jornal já não tem de fornecer uma “secção de opinião de base ampla que [procure] cobrir todos os pontos de vista”. 

Jeff Bezos explicou que decidiu não publicar o apoio a Harris antes das eleições para fortalecer a credibilidade do Washington Post e reconheceu que os seus interesses comerciais, como os contratos da Amazon e Blue Origin com o governo federal, “complicavam a situação”. Em Outubro, Bezos escreveu: “Podem ver a minha riqueza e os meus interesses comerciais como um baluarte contra a intimidação, ou podem vê-los como uma teia de interesses contraditórios. Só os meus próprios princípios podem fazer pender a balança de um para o outro”. 

No entanto, Bezos fez contribuições financeiras para Trump e marcou presença na sua tomada de posse. Estas acções geraram críticas internas no Post, especialmente após a demissão da cartonista Ann Telnaes, que criticou a relação de Bezos com Trump. A demissão de Telnaes e outras decisões levaram também a um aumento nos cancelamentos de assinaturas do jornal.

(Créditos da imagem: Graeme Sloan/Sipa USA/AP)