Reinam as incertezas e as ameaças sobre “media” ucranianos

Desde 24 de Fevereiro de 2022, o Instituto Internacional de Imprensa (IPI) documentou mais de 630 ataques e ameaças a jornalistas e meios de comunicação social na Ucrânia.
Os resultados do programa de monitorização de três anos do IPI mostram que “os jornalistas ucranianos continuam a enfrentar sérios riscos e ameaças relacionados com as suas reportagens sobre a guerra”. Os ataques das forças russas a gabinetes e infraestruturas dos meios de comunicação social, bem como os ciberataques, intensificaram-se no ano passado e “pelo menos 20 jornalistas ucranianos permanecem em cativeiro na Rússia”.
Os meios de comunicação ucranianos debatem-se com o impacto dos cortes de financiamento por parte dos doadores internacionais, até então uma fonte crucial de apoio depois de as fontes de receitas internas terem sofrido com os efeitos da invasão.
Partilhamos alguns dos dados divulgados pelo IPI:
- Aumentaram os números de jornalistas feridos e assassinados nos primeiros seis meses após a invasão russa;
- O Ukraine War Press Freedom Tracker do IPI documentou 24 ameaças a jornalistas na Ucrânia em 2024, em comparação com 25 em 2023. Quase todos os ataques foram causados por bombardeamentos russos ou pelas mãos das forças russas;
- Pelo menos 14 jornalistas foram mortos desde o início da invasão: dez foram mortos em 2022, dois em 2023 e outros dois em 2024;
- Pelo menos 50 jornalistas foram feridos desde Fevereiro de 2022. Destes, 18 sofreram ferimentos durante o período mais intenso de violência, entre Fevereiro e Setembro de 2022.Mais onze foram feridos em 2023 e 18 em 2024;
- Em 2024, intensificaram-se os ataques às infraestruturas de meios de comunicação social na Ucrânia com 15 ataques registados ao longo do ano;
- Desde Fevereiro de 2025, o IPI tem conhecimento de 20 jornalistas ucranianos detidos pelas autoridades russas. Este número inclui, tanto jornalistas que foram detidos enquanto continuavam a fazer reportagens em áreas tomadas pela Rússia, como jornalistas que tinham sido detidos antes da invasão em áreas sob controlo russo, especialmente na Crimeia ocupada;
- Entre os detidos em regiões recentemente ocupadas da Ucrânia, como Kherson e Zaporizhia, estão pelo menos sete jovens jornalistas que publicaram no canal anónimo Telegram RIA Melitopol, sendo mantidos em locais de detenção não especificados;
- Registou 143 ciberataques ou ameaças digitais relacionadas com a guerra contra os meios de comunicação ucranianos desde o início da invasão;
- No ano passado, o número de ciberataques contra os meios de comunicação ucranianos aumentou exponencialmente, com 84 meios de comunicação e jornalistas individuais visados em 2024, em comparação com 19 em 2023;
- Em 2023, o IPI registou “numerosos casos em que as autoridades locais e nacionais ucranianas utilizaram a lei marcial como pretexto para se recusarem a fornecer informações de interesse público aos jornalistas”, tais como informações sobre contratos de construção de estradas ou informações sobre os salários dos funcionários públicos locais.
Os meios de comunicação ucranianos enfrentam “uma nova onda de incerteza” após a suspensão da ajuda externa dos Estados Unidos em Janeiro, essencial para os meios regionais e locais, devido à queda nas fontes de rendimento locais, como o mercado publicitário. Com a suspensão, dezenas de meios de comunicação social “enfrentam a possibilidade de encerramento e tiveram de recorrer à suspensão ou despedimento de funcionários para sobreviver”.
Perante os desafios que se colocam ao sector, o IPI continua a pedir “apoio urgente” dos doadores internacionais, incluindo a União Europeia, e destaca a necessidade de modelos de financiamento mais sustentáveis para garantir a sobrevivência dos meios de comunicação ucranianos.
“Apesar dos persistentes e intensos ataques aos meios de comunicação social e à liberdade de imprensa, os meios de comunicação social independentes ucranianos continuam a fazer o seu trabalho, apesar dos graves riscos e ameaças à segurança, dos custos psicológicos e das contínuas pressões económicas, agora agravadas pela suspensão da ajuda externa dos EUA”.
(Créditos da imagem: Unsplash)