“Não é nenhum exagero dizer que o crescimento vertiginoso das redes sociais, na internet é, talvez, o maior desafio colocado diante da sociedade contemporânea”, começa por dizer Carlos Castilho, no Observatório da Imprensa do Brasil, com o qual o CPI mantém uma parceria.

“Temos um grande e complicado problema a resolver”, é o título da reflexão, onde o professor de jornalismo fala num dilema: “regular ou não regular” as redes sociais. E esta “não é uma questão simples”, isto “porque envolve um grande número de variáveis, desde tecnologia, comunicação e economia até psicologia e ciências da cognição”, refere.

Ainda assim, Castilho diz que a solução, poderá passar pelo lado financeiro das empresas detentoras destas redes sociais.

Sobre este tema, o jornalista considera, antes de mais, que “temos um problema económico grave, gerado pela concentração de poder financeiro, nas mãos de um reduzido grupo de plataformas digitais, que passaram a faturar milhões de dólares com publicidade e venda de informações”.

Carlos Castilho dá os exemplos, em números, relativamente à Meta, dona do Facebook, que facturou 29 mil milhões de dólares, em 2022, um crescimento de 35% face ao ano anterior, enquanto a Alphabet, detentora da Google, facturou 76 mil milhões de dólares, ou seja, teve um crescimento de 88%, no mesmo período. “Trata-se de uma concentração de poder económico cujo crescimento não tem paralelo na história da humanidade.”, afirma.

Estas empresas, segundo o autor do artigo, tornaram-se “verdadeiras minas de ouro, porque não pagam pela matéria prima usada nos seus respectivos negócios” - que são os dados deixados pelos seus utilizadores e, por outro lado, “cobram fortunas pela venda de informações processadas a partir destes mesmos dados”, fugindo a uma obrigação de “pagar taxas ou impostos, alegando que apenas distribuem o que é deixado gratuitamente” por quem as utiliza.

Entretanto, “o sensacionalismo noticioso, as fake news, a desinformação e o discurso do ódio, passaram a fazer parte do ambiente político, com consequências trágicas para o sistema democrático”, atesta o jornalista. “As redes ocupam hoje um papel decisivo no condicionamento das tomadas de decisões” por parte dos seus utilizadores, e “não é por acaso que a extrema-direita mundial transformou as redes sociais na sua ferramenta preferencial, ao explorar novos comportamentos sociais surgidos a partir da interactividade virtual”, refere ainda.

Carlos Castilho, fala, uma vez mais, na “Guerra Cognitiva”, como algo que foi causado pela internet e pelas redes sociais, “porque o resultado da «guerra das notícias», depende de fluxos amazónicos de dados, factos, eventos e ideias, capazes de inibir a capacidade das pessoas de reflectir” sobre o que está a acontecer.

A par de tudo isto, existe o “colonialismo de dados”, onde as redes sociais “acumulam um volume incomensurável de informações, que obviamente são usadas segundo os interesses dos grandes players da economia planetária”, explica o autor desta reflexão.

É, portanto, o conjunto de todos estes factores, que mostra que “o laissez faire no espaço digital, ocupado pelas redes sociais de todos os tipos e nacionalidades, deve ser regulado para evitar o descontrole, abusos e caos”, considera o professor, acrescentando que “a questão-chave, que nem as empresas e nem os governos tocam a fundo, é a da redistribuição dos lucros das redes” com os seus utilizadores. “Esta redistribuição é mais do que justa porque, afinal, os dados que alimentam a riqueza bilionária do Facebook e Google foram cedidos de graça por quem fez buscas na Web ou trocou mensagens com amigos ou empresas”.

Castilho refere o caso dos jornalistas e produtores artísticos, que “estão entre os que são levados a ceder o seu trabalho às redes sociais sem qualquer pagamento, ou mediante uma remuneração mínima”. Quem lucra com isso são “Google, Facebook, Instagram, Youtube e TikTok, com os anúncios publicados ao lado de notícias, vídeo, fotos e textos” destes utilizadores.

“Não será fácil resolver o problema da regulamentação do funcionamento das redes sociais virtuais”, diz, por fim, Carlos Castilho, deixando, no entanto, esta ideia do que poderá ser um começo na solução desta descentralização do poder.