O autor pergunta se “o jornalismo vive uma crise de credibilidade ou ela é generalizada?” e responde, “parece cada vez mais claro que este é um tema complexo e com muitas nuances”.

De acordo com Christofoletti, “confiar em alguém é um processo marcado por exigências pessoais e a esperança do cumprimento de certos compromissos”. Esse processo de confiança “não depende só de aspectos técnicos […] o seu processo de construção e manutenção é dinâmico, complexo e variado”.

Será que verdade é o mesmo que confiança? O autor responde citando a editora britânica Marcela Kunova, que defende “haver outros factores importantes para ajudar a consolidar a confiança das pessoas nos media”.

“Se o público não reconhecer a sua realidade no noticiário, vai considerá-lo menos confiável”. É necessário aumentar essa confiança, e, segundo Kunova, “a indústria do jornalismo ainda tem um longo caminho a percorrer”.

Recorrendo à opinião de outra jornalista, cita Arwa Mahdawi do Guardian, ao lembrar que “a confiança é difícil de construir e fácil de se deteriorar”.

As taxas de confiança podem ser afectadas por factores exteriores ao jornalismo. Christofoletti cita Rasmus Nielsen, salientando o facto de os órgãos de informação e os jornalistas independentes serem, muitas vezes, “admirados pelos seus pares e por uma parte do público pelo seu trabalho independente” enquanto ao mesmo tempo, a sua credibilidade “é contestada por outras parcelas da audiência”.

Segundo o director do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, “mais do que a precisão factual, o ambiente político local interfere também no quanto as pessoas acreditam ou não nos media”.

“Para Nielsen, as dinâmicas políticas impõem custos àqueles que procuram responsabilizar os poderosos de forma independente, e um desses é o custo da coragem. A qualidade do trabalho jornalístico e o quanto nele podemos acreditar é interpretada sob a luz da política doméstica e das indisfarçáveis simpatias ou vieses partidários das pessoas”.

Recorrendo a outro estudo do Instituto Reuters, o autor destaca uma das conclusões que identificou: “A imparcialidade e precisão das informações são muito valorizados pelo público e fundamentais para fazer com que ele acredite nos meios de comunicação”.

Deve haver uma preocupação em conquistar “as pessoas que não compõem o público habitual de media”, conforme defende Rick Edmonds, analista do sector no Instituto Poynter. Se os órgãos de informação se concentrarem nas parcelas mais dispostas a confiar nos media, “as mais indiferentes ou desconfiadas, que também são as mais difíceis e resistentes, correm o risco de serem deixadas para trás”. O analista citado alerta ainda que “não é hora de desistir de identificar segmentos de público persuasíveis e de fazer um esforço contínuo para ganhar sua confiança”.

Para identificar possíveis motivos impeditivos da efectivação de assinaturas digitais, Christofoletti recorre a um estudo da Universidade de Amsterdão, realizado por Tim Groot Kormelink, onde esse professor identifica quatro razões: “custo alto, oferta suficiente de notícias gratuitas na internet, o compromisso que uma assinatura pressupõe e problemas técnicos do produto ou no seu acesso”.

O autor, recupera ainda o conceito do regresso dos ombudsmans defendido por Dan Salomone, jornalista norte americano. Essa figura com origem em 1809, na Suécia, criada como contrapeso do cidadão face ao poder político, teria então a finalidade de salvaguardar os direitos dos cidadãos e supervisionar a aplicação da lei pelos tribunais e pelas autoridades. Aplicado à imprensa teria hoje uma função similar aos provedores do leitor, do ouvinte ou do espectador conforme o órgão de informação onde se inserisse.

O citado estudo defende que o regresso da função, extinguida nos EUA com o advento das redes sociais, poderia contribuir bastante para recuperar a confiança nos media, ainda que não resolvesse totalmente o problema.

Outro argumento mencionado no artigo, é o exercício da transparência como ajuda ao resgate da credibilidade do jornalismo, “pois permite ao grande público um conhecimento mais amplo de como as marcas e os indivíduos trabalham e quais são os interesses que os movem”.

Rogério Christofoletti, declara que “sendo certo que a credibilidade é condição que jornalistas e meios perseguem quotidianamente, há muita incerteza sobre como é formada, o que pode preservá-la e como ela funciona na prática”. Acrescenta ainda que “a credibilidade é intangível e volátil, mas insistimos em materializá-la em números e gráficos” e conclui dizendo, “talvez essa incapacidade de dominá-la alimente ainda mais o nosso desejo de compreendê-la”, afirmou.